Um recurso bastante útil durante a crise é manter um estado de otimismo realista até que a situação melhore.Vários estudos já conseguiram identificar quais traços de personalidade e comportamento tornam com mais anticorpos emocionais às agruras da vida. O médico psiquiatra Cyro Masci afirma que o otimismo realista é um desses recursos, bastante útil até que a situação melhore.
Conta-se que durante a Segunda Guerra Mundial um fato intrigava as tropas dos Estados Unidos: seus soldados aprisionados em campos de concentração morriam em número bem maior que outros soldados de países aliados. Quando foram verificar o motivo, descobriu-se que os alemães com frequência humilhavam seus prisioneiros, obrigando-os, por exemplo, a gritar o famoso “Heil Hitler!”. Os patriotas americanos preferiam a morte a cometer tal heresia, e acabavam recebendo um tiro como recompensa. Já outros aliados preferiam saudar Hitler, sua mãe e todos os generais, permanecendo vivos.
O médico psiquiatra Cyro Masci afirma que hoje o mundo todo está, de certo modo, aprisionado num grande campo de concentração chamado Crise Sanitária e Econômica. “E um recurso bastante útil é manter um estado de otimismo realista até que a situação melhore”, aconselha o profissional.
Vários estudos já conseguiram identificar quais traços de personalidade e comportamento tornam uma pessoa mais otimista, com mais anticorpos às agruras e azares.
Diferenças
Em primeiro lugar, pessoas resistentes aos infortúnios acreditam que toda situação infeliz é passageira, enquanto os pessimistas explicam os acontecimentos em termos permanentes. “Otimistas pensam em termos de ‘às vezes’ ou ‘por enquanto’; e pessimistas, em termos de ‘sempre’ ou ‘nunca’.”, explica Cyro Masci. Segundo ele, uma coisa é a pessoa pensar que não vai conseguir ganhar dinheiro nunca e outra é perceber que está ganhando menos ultimamente ou ter a percepção de que estes tempos estão difíceis, mas já houve dificuldades antes.
O psiquiatra lembra que outra mudança no estilo dos otimistas é a abrangência, a especificidade do motivo da dificuldade. “Otimistas tendem a explicar a crise em termos de ‘o momento é difícil no mundo todo’ ou ‘o Brasil está numa situação delicada’. Já pessimistas costumam atribuir explicações universais para os insucessos, como ‘o mundo está perdido, a crise está por toda a parte’ ou ’Brasil não tem mais jeito, está tudo perdido’”, exemplifica Cyro Masci.
Por fim, pessimistas tendem a interiorizar os motivos de dificuldade, enquanto otimistas tendem a atribuir as causas de dificuldade a terceiros. “O otimista, ao se deparar com dificuldades, prefere pensar assim ‘como há incompetentes’. Já o pessimista, ao contrário, atribuiria a incompetência a ele e não a outra pessoa”, avalia o médico.
Numa boa maré, diz ele, o pessimista até se congratula por se sair bem em determinado fato em particular, enquanto o otimista se dá os parabéns por ser uma pessoa tão ótima, não apenas naquele fato, mas em muitos aspectos da vida.
Brasileiros
“A impressão que passa é de que os brasileiros têm uma cultura muito do estilo dos otimistas. De modo geral, já percebem claramente que a crise é causada por fatores externos a cada pessoa, que há algo mais em jogo que a competência individual. Também acreditam que ela seja provisória, como foram várias outras”, explica Masci.
“O que talvez esteja faltando é acreditar um pouquinho mais na capacidade que há em cada pessoa, independentemente de soluções externas, como governos ou empregadores. E acreditar que os melhores sonhos se tornam fatos quando construídos com a disposição para mudanças, a energia do esforço, a eficácia da solidariedade e a argamassa da esperança”, finaliza o psiquiatra.
Fonte: Cyro Masci, médico psiquiatra em São Paulo, autor dos livros “Síndrome do Pânico: Psiquiatria com abordagem integrativa” e “Biostress: Novos caminhos para o Equilíbrio e a Saúde”.
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