São Paulo 11/3/2021 – Existe um grande interesse do público em conhecer histórias através de um olhar mais real, sensível e humanoServiços de streaming recorrem aos documentários para atender uma demanda crescente de audiência.
Enquanto a indústria global de cinema passa por uma crise dramática durante a pandemia da Covid-19, com prejuízos em bilheterias estimados em cerca de 32 bilhões de dólares em 2020, um segmento do mercado audiovisual cresce mesmo em tempos sombrios: a produção de documentários. Segundo pesquisa recente da empresa americana Omdia, os documentários vêm na esteira do crescimento, sem precedentes, das plataformas de streaming, que no ano passado apresentou um incremento mundial de 30% com relação a 2019.
“Historicamente, a compra de documentários pelos streamers era feita de forma oportuna, mas devido ao impacto da Covid-19 nas filmagens em geral, há uma escassez de produções no mercado. Sem novos produtos para apresentar aos assinantes, a aquisição de documentários tornou-se uma necessidade”, diz Kevin Iwashina, vice-presidente da consultora de scripts Endeavor Content.
Habituados a orçamentos escassos e cenários desafiadores, documentaristas estão sendo convocados para alimentar, a toque de caixa, uma demanda sedenta por novas histórias. A norte-americana Erin Lee Carr, que em 2019 vendeu dois documentários para a HBO, diz que nunca recebeu tantas ofertas como no segundo semestre do ano passado. “Estou trabalhando em um documentário de três episódios sobre um famoso caso criminal – algo que fiz inteiramente por videoconferência. Enfatizar imagens de arquivo tem sido um grande trunfo nessa fase”, diz a diretora de “Perícia Viciada”, minissérie lançada pela Netflix no ano passado.
No Brasil, o diretor mineiro Roberto Benatti também notou um crescente interesse do mercado pela linguagem documental. Colaborador da National Geographic nas séries “Open Explorer” e “Field Notes”, Benatti aplica esse tipo de narrativa também em filmes publicitários, caso de campanhas que fez para a empresa alemã Porsche e para a academia de jiu-jitsu Gracie Barra em Belo Horizonte.
Em 2019, Benatti iniciou um registro sobre os empreendedores mineiros Tiago e José Felipe Carneiro, fundadores da Wäls, premiados na World Beer Cup por produzirem a melhor cerveja do mundo. “Acompanho a trajetória deles há dois anos, filmando a história de empreendedorismo da família no Brasil e nos Estados Unidos”.
Por conta do lockdown, o diretor teve que adiar a sequência das filmagens de “Fermentando o Sonho Americano”, sobre o mais recente negócio da família, a Novo Brazil Brewing Co., cervejaria baseada em San Diego, na Califórnia. O projeto que nasceu como um material institucional agora vem recebendo propostas para ser exibido em plataformas de streaming e salas de cinema. “Existe um grande interesse do público em conhecer a história de empresas de sucesso através de um olhar mais real, sensível e humano”, afirma Benatti.
Se depender do crescimento dos serviços de streaming, o mercado de documentários pode atingir uma audiência nunca antes registrada. Nos EUA, a Parks Associates divulgou que, no final de 2020, 61% das residências com banda larga no país contavam com dois ou mais serviços de streaming, em comparação a um índice de 48% no ano anterior.
No Brasil, a Globoplay, plataforma da Rede Globo, registrou um aumento de 145% no número de assinantes no primeiro semestre de 2020. Já a Netflix, uma das líderes do mercado, conquistou quase 16 milhões de novas assinaturas no primeiro trimestre do ano passado.
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