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Arie Halpern: tecnologia de interface traz novo panorama para paralisia severa



31/3/2022 – Eletrodos implantados no cérebro permitem a comunicação por meio de sinais neurais de pessoas com ELA em estágio avançado.

Microeletrodos implantados no cérebro de um paciente com esclerose lateral amiotrófica (ELA) conseguiram capturar a atividade dos neurônios possibilitando que ele se voltasse a se comunicar. Os sinais da atividade cerebral captada pelos implantes no córtex motor, a área do cérebro responsável pelos movimentos, foram decodificados por um algoritmo desenvolvido por meio do aprendizado de máquina, o popular machine learning.

A ELA é uma doença neurodegenerativa que destrói os nervos que controlam os movimentos do organismo fazendo com que a pessoa perca o controle dos músculos e, assim, a capacidade de se mover, falar e no estágio mais avançado até respirar. A doença, que se tornou mais conhecida há algumas décadas por ter acometido o físico Stephen Hawking, vai aos poucos condenando o paciente ao isolamento extremo.



A ciência e a tecnologia já possibilitaram muitos avanços para prolongar e melhorar a sobrevivência de quem sofre da doença. Quando o paciente perde a capacidade de falar, a comunicação pode ser feita selecionando letras em uma tela usando uma câmera de rastreamento ocular. Num estágio posterior, é possível responder apenas sim ou não com movimentos sutis dos olhos.

O estudo conduzido por pesquisadores do Wyss Center for Bio and Neuroengineering, da Suíça, e da University or Türbingen, na Alemanha, abre caminho para novas tecnologias para a comunicação de pessoas com paralisia severa.

Sem os movimentos do corpo e já impossibilitado de falar, mas com as habilidades mentais e a audição ainda preservadas, o paciente que está participando do estudo recebeu dois implantes, com 96 microeletrodos cada. Depois, ao longo de meses, foram calibrando a técnica de acordo com as respostas que obtinham e ajustando o sistema para que captasse os neurônios com mais atividade. Ao mesmo tempo, foi realizado o monitoramento sobre como cada um deles se comportava com os esforços do paciente.

Captura de sinais neurais traz relevante questão ética

A primeira frase inteligível foi um pedido para que seus cuidadores mudassem a posição de seu corpo. A comunicação, porém, é esporádica e os cientistas não conseguem saber ao certo se nos momentos em que não há comunicação é por vontade do paciente ou porque os sinais cerebrais são muito fracos para serem captados e decodificados.

Ainda que o estudo traga perspectivas animadoras de que é possível manter a comunicação com uma pessoa à medida que ela perde suas habilidades, os resultados também indicam que é necessário um grande investimento financeiro e de tempo para que se consiga desenvolver um sistema capaz de ser usado por vários pacientes, já que depende de ajustes muito específicos à condição de cada um.

A leitura de sinais neurais traz também uma relevante questão ética. O paciente deste estudo autorizou o implante de microeletrodos em seu cérebro para que pudesse manter a comunicação há cerca de três anos, quando ainda conseguia mover os olhos. Porém, com a progressiva perda dos movimentos, ele não teria a possibilidade de manifestar sua vontade caso desistisse. E não há como saber se ele ainda deseja que seus sinais cerebrais sejam acessados ou mesmo se estão realmente traduzindo seus desejos.Arie Halpern: tecnologia de interface traz novo panorama para paralisia severa

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