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Superalimentos amazônicos retêm nutrientes da Terra Preta

De pé há cerca de 2 milhões de anos, a Floresta Amazônica ainda intriga cientistas. Sua biodiversidade única no planeta reúne cerca de 30 milhões de espécies animais e ao menos 40 mil espécies vegetais, além de ser lar de mais de 180 povos e comunidades tradicionais. A vida abundante na região pode ser explicada por uma hipótese científica, cujas evidências foram recentemente descobertas sob o chão da Amazônia: a de que a maior floresta tropical do mundo teve seu crescimento estimulado pela Terra Preta Ancestral, um tipo de solo altamente fértil e que tem o poder de transferir mais micronutrientes às plantas. Como resultado, a Terra Preta proporciona alimentos mais nutritivos para os humanos – os superalimentos –, capazes de sustentar civilizações inteiras no passado.

Hoje, a ciência busca compreender mais profundamente os benefícios da inclusão de superalimentos na dieta humana, observando sua relação com a epigenética e também com a bioeconomia e geração de renda para comunidades tradicionais. O assunto foi tema de um workshop realizado no Museu de Ciências da Amazônia – MuCA, “Estratégias Epigenéticas: Potencializando a Saúde”, em parceria com a nutricionista Aleska Calandrim, especialista em epigenética e saúde da mulher. O MuCA é um centro de pesquisa e treinamento técnico com apelo cultural, cuja missão é alavancar a tecnologia voltada para a indústria de ciências da vida, contribuindo assim para o turismo sustentável e preservação da floresta. O MuCA tem o apoio do Instituto Cultural Vale e da MAD – Made in Amazônia, bioindústria brasileira de superalimentos e biocosméticos baseada na Floresta Nacional (Flona) do Tapajós. À reportagem, Aleska conta mais sobre sua experiência visitando a Amazônia e relação entre superalimentos e saúde:

Para o campo da nutrição, o que são os superalimentos? Quais são seus benefícios para a saúde humana?



Os superalimentos são frutos, legumes, vegetais e plantas ricos em nutrientes essenciais e compostos bioativos que contribuem para diversos aspectos da saúde, desde o fortalecimento do sistema imunológico, saúde intestinal e função cognitiva até prevenção de doenças crônicas e longevidade. A vantagem de consumi-los é que por vezes é difícil encontrar seus nutrientes em quantidade suficiente na alimentação comum. Um exemplo disso são os polifenóis, um grupo de compostos bioativos encontrados em plantas, de propriedades antioxidantes e anti-inflamatórias.

Na sua visão, quais são os superalimentos amazônicos que o mundo precisa conhecer?

Diversos alimentos amazônicos podem ser considerados superalimentos, incluindo o açaí, guaraná-cipó, cacau, castanha do Pará, camu-camu…Além dos que mencionei, vale destacar as ervas medicinais, PANCs e fungos, que possuem diversas propriedades benéficas para a saúde e são pouco consumidos em outras regiões do Brasil e do mundo.

Sua visita ao MuCA foi também sua primeira vez na Amazônia. Qual aspecto da Floresta mais te surpreendeu?

A Amazônia é verdadeiramente mágica, ela te envolve e te transforma de maneiras que eu jamais imaginaria. É impossível sair de lá sem uma mudança profunda. O aspecto que mais me tocou foi a profundidade do conhecimento e o domínio das práticas ancestrais e naturais de cura pelas comunidades locais. Foi inspirador ver como essas tradições são valorizadas e mantidas vivas por lá, algo que muitas vezes é esquecido em nosso mundo moderno.

No tempo que passou por aqui, você optou por seguir uma dieta à base de superalimentos locais, cultivados na Terra Preta Ancestral. Quais foram as mudanças que observou na sua saúde?

Antes de embarcar para a Amazônia, fiz um exame de sangue completo para avaliar o impacto da alimentação no meu corpo durante a viagem. Chegando lá, a MAD nos proporcionou uma dieta à base de plantas e ingredientes locais, além de preparos como shots e chás. O impacto dessa dieta aliada ao contato constante com a natureza foi positivo no meu organismo e se refletiu no resultado dos exames bioquímicos posteriores. Em cerca de sete dias, observamos um aumento substancial nos níveis de minerais como magnésio e ferro, assim como alta de hemoglobina e plaquetas, além da redução nos níveis de hemoglobina glicada e nos marcadores inflamatórios como o PCR.

Do ponto de vista epigenético, de que forma o contato com a natureza complementa a prática de uma dieta com superalimentos?

Eles se complementam porque o contato com a natureza influencia os padrões epigenéticos quando reduz o estresse, promove a saúde mental e aumenta a diversidade microbiana.

Além disso, cultivar e consumir alimentos locais beneficia nossa saúde ao oferecer alimentos mais frescos e nutritivos, enquanto também respeita os ciclos naturais de produção e fortalece a economia local ao apoiar os produtores da região. Não é saúde só para o corpo, mas para toda uma sociedade e sua economia – esse é um dos significados da palavra “bioeconomia”.

Na sua visão, qual é o caminho para levar nutrição de qualidade para o mundo?

Na minha visão, o caminho para levar nutrição de qualidade para o mundo começa com três pontos-chave: acesso equitativo a alimentos nutritivos, educação nutricional e o desenvolvimento da bioeconomia. Esses três pilares combinados podem criar um sistema alimentar global mais saudável e sustentável.