por Fabrizzio Topper*

A China não é para todos. Recentemente, voltei de uma viagem ao país e retomei esse pensamento que me acompanha há um tempo. E digo isso porque, em mais de 30 anos trabalhando com martech, aprendi que a complexidade desse mercado exige mais do que conhecimento técnico – é preciso compreender profundamente a cultura local e ter flexibilidade para adaptar estratégias em um ambiente que muda constantemente. Características essenciais para quem atua no segmento de varejo e quer aprender com o país asiático, que é uma referência incontornável para varejistas já há algumas décadas. Marcas como Alibaba, Hema Fresh e Dingdong oferecem lições valiosas sobre inteligência de dados, omnicanalidade, personalização e agilidade.

Essa imersão recente no varejo chinês trouxe insights estratégicos que vão além da simples observação de inovações tecnológicas. As visitas evidenciaram a complexidade do ecossistema chinês, que combina tecnologia, logística avançada e comportamento do consumidor em um modelo contínuo de aprimoramento. Diferentemente do que ocorre em mercados ocidentais, onde as mudanças muitas vezes seguem ciclos mais lentos, o varejo chinês adota uma dinâmica acelerada, fundamentada na experimentação constante e na capacidade de adaptação rápida.



Abordagem que, inclusive, não se limita a soluções tecnológicas. A China demonstra que eficiência operacional e inovação dependem de uma visão estratégica que conecta propósito, execução e revisão contínua de processos. É uma prática que se traduz em modelos como o omnichannel avançado do Hema Fresh ou na logística de alta eficiência de empresas como Dingdong, que respondem com agilidade a um consumidor exigente e em busca de conveniência.

Além dos aspectos técnicos, a cultura chinesa exerce um papel determinante na forma como essas empresas estruturam suas operações e constroem relacionamentos comerciais. Conceitos como o guanxi – a rede de conexões interpessoais que orienta boa parte das negociações e parcerias – influenciam diretamente as práticas empresariais.

Outro ponto relevante é o senso de direção claro que essas empresas apresentam. Existe um alinhamento evidente entre o propósito do negócio e as estratégias adotadas para alcançar resultados consistentes. O compromisso com o desenvolvimento de ecossistemas integrados, que aliam comércio eletrônico, logística e atendimento personalizado, é um diferencial que poderia ser adaptado ao mercado brasileiro.

Essas características apontam caminhos estratégicos para o varejo nacional. Flexibilidade operacional, revisão contínua de processos e uma abordagem centrada na experiência do consumidor são fatores que, quando bem implementados, podem gerar vantagens competitivas significativas. Contudo, é fundamental entender que inovar não significa apenas importar conceitos bem-sucedidos, mas adaptá-los às realidades locais.

O aprendizado mais relevante dessa expedição é que, para o mercado brasileiro, o desafio não está em replicar fórmulas, mas em compreender quais princípios podem ser adaptados de maneira eficaz. A conexão entre propósito, estratégia e execução é essencial para enfrentar um ambiente em constante transformação.

*Fabrizzio Topper é diretor de estratégia e inteligência na Quality Digital