* Por Rodrigo Parreira
Estamos vivendo, hoje, um processo de evolução não apenas veloz, mas também qualitativo dos paradigmas tecnológicos no ambiente empresarial. Os elementos que compõem esse processo vêm sendo usualmente associados a temas como mobilidade, analytics, computação em nuvem e redes sociais. Segundo alguns analistas, esse processo levaria a uma “terceira onda” no desenvolvimento de tecnologias. Nessa caracterização entende-se a “primeira onda” como aquela dominada pelos mainframes, dominantes na década dos sessenta e setenta. Em seguida, um novo padrão foi estabelecido, com o surgimento dos microcomputadores e das redes de dados – em particular a internet –, em um cenário que evoluiu desde os anos 80 até os princípios da década de 2010.
No entanto, o que hoje chamamos de “terceira plataforma” é algo ainda não muito bem definido e em muitas das caracterizações que vejo no mercado os elementos essenciais desse processo de transformação acabam se perdendo. Me parece praticamente impossível entender essa dinâmica de mercado sem levar em conta a convergência entre a tecnologia da informação (TI) e as chamadas tecnologias de operação (TO), sempre no contexto das organizações empresariais, sociais ou relacionadas à administração pública.
Por um lado, a TI sempre foi associada, de forma transversal, a elementos de suporte corporativos e/ou administrativo-financeiros, apontando para a melhoria na eficiência dos processos sobre os quais se apoiam os mais variados modelos de negócios. Nesse contexto, a TI busca capturar produtividade e gerir a informação de maneira mais racional e estruturada, sempre a partir de uma posição de back office. Por outro lado, as TOs são uma série de elementos tecnológicos, em geral bastante sofisticados, fortemente vinculados às cadeias produtivas de forma específica e vertical, muitas vezes associados a conceitos como automação, controle e logística.
Historicamente, essas duas camadas tecnológicas nunca se comunicaram muito bem, vivendo em mundos isolados, gerenciados, nas organizações, por grupos diferentes e desenvolvidas por fabricantes e provedores de serviços com poucos pontos de contato. Esse ambiente, entretanto, deve se transformar de forma bastante acelerada nos próximos anos, já que estamos prestes a observar a forte convergência desses dois universos, a partir de uma perspectiva que hoje chamamos de IoT (Internet of Things).
Nesse contexto, redes de sensores capturam informações das linhas produtivas ou de outros elementos de uma cadeia operacional, que são processadas e analisadas em tempo real por sistemas especializados gerando dados que permitem uma constante melhoria na performance produtiva. Em um futuro próximo, a incorporação de elementos de inteligência artificial e machine learning, deve levar ao surgimento de sistemas produtivos praticamente autônomos e extremamente eficientes.
Sem fronteiras
A consequência imediata desse modelo é o desaparecimento justamente das fronteiras entre a TI e as TOs, dando origem a um mundo no qual a tecnologia assume um papel muito mais orgânico, praticamente definindo e reconfigurando as cadeias de valor e os modelos de negócios das empresas e organizações. E é exatamente aí que aquilo que conhecemos como TI deixa de fazer sentido por si mesma, embora a tecnologia, de forma mais ampla, ganhe um papel cada vez mais preponderante em nossa sociedade e em nossos modelos econômicos.
E é por tudo isso que vejo, no futuro próximo, enormes oportunidades para prestadores de serviços que sejam capazes de entender esses processos como ponto de partida para a construção de seu posicionamento, articulando o conhecimento tecnológico, de forma bastante ampla, com os crescentes desafios de negócios enfrentados por seus clientes em suas cadeias de valor.
CEO da Logicalis Latin America
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