Por Paulo Antunes *
“Os dados são o novo petróleo”. A frase do matemático britânico especializado em ciência de dados, Clive Humby, se tornou uma referência no mercado para exemplificar a importância do uso das informações geradas por máquinas, sensores e câmeras com a Internet das Coisas (IoT).
Na indústria, os ganhos com Big Data como maior produtividade, redução de perdas e ações de manutenção preditiva são mais conhecidos e já fazem parte da atuação de muitas empresas do mercado. Mas e para as cidades? Quais os benefícios que o uso de dados pode gerar para o bem estar de seus habitantes e tornar o ambiente mais sustentável?
No Brasil já há algumas iniciativas pontuais e utilizadas por segmentos específicos, mas não há nenhuma região ou cidade cuja gestão é realizada tendo como base o uso de dados. E é essa inovação no país que haverá em Aguaduna, cidade inteligente e sustentável que será construída a partir deste ano na região de Entre Rios, no litoral norte da Bahia. Tanto que o projeto inclui a utilização do MindSphere, plataforma de IoT baseada em nuvem da Siemens, parceira da espanhola Naurigas Empreendimentos na construção da cidade.
A plataforma funcionará como uma agregadora de dados dentro da cidade e permitirá uma maior interação de seus habitantes com o ambiente. Iniciativas como reportar falhas em equipamentos públicos (semáforos, iluminação, etc), obter informações de serviços e atividades da cidade, reservar um posto de carregamento de veículo elétrico, notificar os gestores sobre a qualidade de espaços públicos, entre outros, farão parte do dia a dia dos que vão morar em Aguaduna. Essa troca de informações é fundamental para a boa gestão do local e melhora do bem estar da população.
Mas mais do que isso, o MindSphere possibilitará criar indicadores de desempenho que vão direcionar as ações de seus gestores rumo a uma cidade mais sustentável. A partir dos dados será possível obter a energia elétrica necessária para abastecer os veículos elétricos, o consumo médio de água e energia por habitante ou região, o quanto de resíduos sólidos é gerado por pessoa ou em determinado local, entre outros indicadores.
Será possível identificar, por exemplo, se um prédio ou estabelecimento está com um consumo de água ou energia acima da média da cidade ou região, possibilitando ações para que o local se adeque aos índices do município. O uso dessas informações possibilitará a criação de metas voltadas à sustentabilidade, facilitando a tomada de decisões por parte dos gestores.
Em Aguaduna, o MindSphere também será aplicado na rastreabilidade da produção de alimentos ao lado de outras tecnologias, como o Blockchain. A partir deste serviço, os habitantes poderão obter informações como o local de produção, como foram transportados, se são orgânicos ou não, produtos químicos usados em sua produção, etc. Esse sistema já é utilizado pela Siemens no mercado brasileiro desde 2018 por meio do Centro de Competência para a Cadeia da Proteína Animal.
Além de informações em relação à qualidade dos produtos, os benefícios incluem redução no desperdício de alimentos por facilitar a detecção de lotes caso haja algum problema na linha de produção.
A implementação de soluções inteligentes e serviços digitais como as citadas acima será essencial para o sucesso de Aguaduna no país. O uso de Big Data é base para uma economia circular como a que será realizada na cidade, que desde o princípio prevê regenerar os sistemas naturais por meio do uso de energia renovável e prolongar a vida útil de produtos e materiais, do tratamento correto de resíduos e captação de águas pluviais.
Não há dúvidas que esse projeto no litoral norte da Bahia será um marco para os novos modelos de cidades inteligentes no Brasil. E seu grande diferencial está no processamento de dados gerados pelos mais diversos ativos que vão compor o ambiente e que serão utilizados de maneira inovadora visando uma gestão sustentável de maior bem estar para seus milhares de habitantes.
* Paulo Antunes é Head do MindSphere Application Center da Siemens
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