Por Marcílio Oliveira *
Não é novidade que a nossa forma de consumir mudou. A conectividade já é tão embutida na nossa rotina que ao ligar o Waze somos logados no Spotify quase que por osmose. A nossa conta bancária também parece ter ‘vida própria’, com a quantidade de serviços que nos são oferecidos de acordo com os nossos hábitos de consumo. Hoje, também é possível que todos os nossos aplicativos financeiros se conectem e nos deem uma visão completa das nossas finanças. Chegamos à era das plataformas e o mundo realmente mudou.
A forma como consumimos informações e realizamos atividades simples do dia-a-dia, como pagar uma conta, chamar um “táxi”, ouvir música ou assistir um filme, deixaria até mesmo Marty McFly boquiaberto. Para as empresas de setores consolidados como bancos, financeiras e varejo essas mudanças são especialmente impactantes, pois demandam uma transformação da visão de negócios e na relação que elas já têm com a tecnologia.
Dessa urgência por mudanças e disrupção do papel que a Tecnologia tinha para os executivos até o início dessa década é que nasce a famosa ‘transformação digital’. A TI passou de um departamento técnico para estratégico, capaz de transformar completamente os modelos de negócios mais regulados, como os bancos. E é importante lembrar que é nessa transformação que as APIs ganham forma, afinal, elas são as grandes responsáveis por transformar até as máquinas de cartões de crédito e débito em plataformas abertas, que permitem aos desenvolvedores criar novos serviços – como é o caso da Cielo Lio – que agora é uma plataforma, que permite até que um restaurante integre seu cardápio nela, por exemplo.
Das APIs surgiram os Unicórnios
Muito além dos ‘bits e bites’ essas três letrinhas são praticamente as responsáveis pelo sucesso dos Unicórnios – essas que já nascem no ambiente digital e têm tecnologia no seu core business. Há diversos exemplos de empresas que surgiram como plataforma e que criaram modelos de negócios imbatíveis, como Uber, Spotify, e no Brasil, o Nubank, Netshoes, PagSeguro, entre outras. Essas empresas nasceram nessa era e estão conquistando um mercado cada vez mais amplo de pessoas que podem fazer praticamente qualquer coisa pelo celular.
Uma das principais diferenças entre unicórnios e empresas tradicionais é que as APIs estão no centro de tudo desde a sua criação. Elas estão na comunicação entre os times internos, na agilidade com microserviços, nas mudanças organizacionais dos times, e na interação com clientes pelos diversos canais e plataformas em que estão inseridos. Claro, as APIs também estão na oferta dos diferentes produtos e serviços que essas empresas comercializam. E o que isso gera? Agilidade e poder transformacional.
São nessas empresas que a TI ganhou um papel protagonista no desenvolvimento de negócios e não apenas do suporte da operação cotidiana da empresa. Essas empresas estão reescrevendo a história de times de TI, que estão usando suas capacidades técnicas para criar negócios que independem do mundo físico para sobreviver. São negócios na nuvem, com uma arquitetura escalável, que usam APIs internas e externas, e têm uma boa estratégia de plataformização alinhada à estratégia de negócios.
Por isso, enquanto a quarta revolução industrial bate à porta de setores tradicionais mostrando que a integração e a conectividade estão mudando os rumos da economia, as empresas que ainda não incluíram as APIs como parte da sua estratégia de negócios vão ter muito o que correr atrás para não desaparecerem. As APIs podem apoiar times internos a transformar modelos de negócios tradicionais com agilidade para competir de forma igualitária com empresas que já nascem digitais. Afinal, a tecnologia cria oportunidades para atender a sociedade e as empresas. E por mais que falar sobre APIs possa parecer técnico demais, o assunto é necessário e deve entrar na agenda dos executivos.
* Marcílio Oliveira é COO da Sensedia