Cuidar de uma criança em 2022 significa estar constantemente aliado ao YouTube, Netflix, jogos para celular e até redes sociais: a verdade é que já não conseguimos esconder a tecnologia do universo dos pequenos, e muitos de seus recursos podem nos ajudar no cotidiano atarefado. Para quem tem filhos um pouco mais velhos, este ano também marcou a chegada das aulas virtuais e chamadas que exigem um tempo ainda maior na frente de uma tela eletrônica.
O caminho de proibir por completo o acesso aos eletrônicos raramente funciona, e pode acabar limitando o acesso das crianças a conteúdos que, na verdade, podem ser educativos e construtivos. Mas será que devemos então limitar e monitorar o tempo de exposição às telas de nossos filhos? É possível fazer isso de forma equilibrada e saudável para a relação responsável/criança? Conheça tudo o que precisa saber sobre o tema.
Monitoramento de tempo em tela
Ao longo dos últimos anos, as discussões sobre os possíveis perigos do uso exagerado de eletrônicos, aliadas ao grande número de criadores de conteúdo infantil e escândalos de violação de privacidade, movimentaram empresas como Google e Apple a adicionarem ferramentas para autocontrole e controle familiar do tempo de uso dos aparelhos. Além disso, muitas mães e pais já utilizam aplicativos para monitorar ou limitar aparelhos de crianças.
A proposta é simples: usando os recursos de família de plataformas como o Android ou iPhone, ou então usando um aplicativo de terceiros, o responsável pela criança pode monitorar quais apps estão sendo acessados, o horário, e definir um limite máximo de horas de exposição ao smartphone ou tablet. Opções mais robustas também permitem que a criança solicite tempo adicional para, por exemplo, finalizar uma tarefa, ou menos restrições durante os finais de semana.
No iPhone, é possível encontrar estas opções adicionando uma conta de criança na Família do iCloud e ativando os recursos de limite de tela. No Android, basta criar uma família na Conta Google e ativar os recursos de bem-estar digital. Em ambos os casos, é importante definir corretamente a idade da criança, e ajustar as opções de privacidade para evitar que pessoas fora da família tenham acesso aos dados pessoais. Para computadores, é preciso investir em um programa confiável de terceiros, com uma variedade de preços e recursos.
Do ponto de vista tecnológico, esses recursos funcionam: raramente é possível burlar os limites impostos, e o monitoramento avançado mostra sites acessados, quais jogos estão instalados, a faixa etária dos conteúdos assistidos, e por aí vaí. Além disso, é possível identificar e cortar logo de cara problemas sociais graves da interação online como o cyberbullying, problema gigantesco destacado no mês de Junho pela ExpressVPN. Mas a pergunta é, para a psicologia da criança, sua saúde, e o relacionamento com os pais, vale a pena investir nesses recursos?
Eletrônicos demais causam problemas às crianças?
A resposta mais simples é que ainda não temos informações o suficiente para afirmar categoricamente todos os efeitos do mundo digital no crescimento das crianças, mas que sim, pesquisadores já começaram a identificar potenciais problemas causados pelo excesso de telas na vida dos pequenos.
Toda tecnologia pode ser positiva ou negativa, dependendo do uso inteligente que fazemos de seus recursos. No caso da introdução de eletrônicos para crianças, o papel do responsável está em garantir uma relação saudável entre a criança e o eletrônico: é preciso que a criança saiba separar o digital do real, possua outras formas de estimular a criatividade e movimentação, e tenha o hábito de apresentar ao adulto qualquer informação estranha ou desconhecida que apareça no eletrônico.
Essa relação positiva garante uma experiência livre das frustrações do vício em smartphones, problema cada vez mais crescente. Mas o controle da exposição às telas continua sendo importante: a luz azul emitida por eletrônicos confunde o ciclo circadiano do cérebro, impedindo a liberação do hormônio melatonina, isso significa que o uso de eletrônicos perto da hora de dormir resulta em insônia e picos de energia, atrapalhando a qualidade do sono das crianças – especialmente em idades onde esses problemas já aparecem naturalmente. As 8 horas completas de sono são inequivocamente fundamentais para o desenvolvimento da mente infantil.
Smartphones e a saúde mental de crianças
Se as preocupações com a saúde visual e noturna das crianças já demonstram a necessidade de controlar o tempo na frente dos eletrônicos, pesquisas recentes trazem informações alarmantes sobre a saúde mental dos pequenos: o uso exagerado de smartphones, principalmente sem interação com os pais, está associado com a diminuição da plasticidade cerebral (importante para o aprendizado), aumento na incidência de ansiedade e até mesmo depressão durante a adolescência. Além disso, dados mostram que a mera presença dos eletrônicos durante atividades didáticas podem impactar a memória e dificultar o processo escolar.
Como remediar o problema?
O vício em eletrônicos já afeta adultos, adolescentes e crianças de forma geral, por isso, é importante reconhecer a necessidade de trabalhar este desafio como um processo conjunto da família, sem culpas ou cobranças, mas de forma saudável e oportuna: um celular na mão de uma criança pode garantir o entretenimento durante uma viagem de carro, trazer informações incríveis para sanar aquelas dúvidas mirabolantes, e cantar Galinha Pintadinha no YouTube ainda pode ser um passatempo excelente para acalmar uma criança, no entanto, algumas dicas podem nos ajudar a evitar que tudo isso se transforme em algo nocivo:
Crie um ambiente propício: sempre que possível, é interessante separar os ambientes virtuais e reais para cada atividade. Assim, o computador é melhor posicionado no escritório ou sala, longe da cama onde a criança dorme, e a tela inicial do smartphone deve apresentar apenas os aplicativos apropriados para o pequeno, e não uma infinidade de opções e informações.
Façam atividades juntos: a privacidade pessoal de seu filho irá crescer e se transformar com o tempo, mas é importante que existam atividades no computador ou celular que sejam conjuntas entre você e o pequeno. Jogos interativos durante a quarentena como cara-a-cara, Draw Something, histórias interativas ou exercícios da escola podem ser feitos juntos usando os eletrônicos.
Incentive as atividades físicas: simplesmente remover o eletrônico das mãos de uma criança pode ser um desafio, mas incorporá-los às atividades físicas é uma forma de aliar o útil ao agradável. Elabore uma caça ao tesouro onde a dica inicial estava no smartphone, ou use o celular como walkie-talkie ao brincar de esconde-esconde, a lanterna do aparelho pode se transformar em um teatro de sombras feito com cartolina. O importante é aliar a diversão no mundo real com a tecnologia que o pequeno já conhece.
Permita o uso em horários inteligentes: evitar os eletrônicos antes de dormir, assim que acordar, e durante o almoço, já é uma forma poderosa de evitar grande parte das preocupações relacionadas à saúde.
O vício em tecnologia é mais um desafio para quem cuida de uma criança, mas com um planejamento inteligente e alguns recursos em mãos, podemos transformar períodos como a quarentena de 2022 em oportunidades para aprendizado e saúde, sem exageros, para o bem de toda a família.