Por Vinicius Marchese *
A cidadania só é plena quando as pessoas exercem seus direitos e deveres em sociedade. É por isso que a participação e envolvimento dos cidadãos na tomada de decisões são indispensáveis para a construção de soluções conjuntas, que tragam melhorias e beneficiem a coletividade. Quem vive o dia a dia das cidades é que conhece os seus desafios e deve estar no centro do debate sobre as resoluções possíveis para os problemas do cotidiano, em suas mais variadas áreas. Essa é a premissa que fundamenta o conceito das cidades inteligentes.
A integração e a conectividade são pontos-chaves para concretizar essa concepção, já que possibilitam que a elaboração de projetos seja guiada pela participação social e pelo contínuo monitoramento e uso de dados. Ao levar em consideração a realidade dos cidadãos e de suas respectivas regiões, a tecnologia é utilizada como um instrumento para o desenvolvimento econômico e social.
Iniciativas bem-sucedidas em todo o mundo têm despontado como referência para países que começam sua jornada rumo às cidades inteligentes, como é o caso do Brasil. Como um exemplo neste cenário, temos Medellín, na Colômbia, que seu reconhecido processo de reformulação inseriu o cidadão no centro das decisões por meio da participação de comitês locais.
Neste aspecto, a inovação acontece a partir do intenso intercâmbio de ideias entre aqueles que vivem a cidade e vislumbram possibilidades para corrigir as dificuldades encontradas, seja na saúde, no meio ambiente, na educação ou na segurança pública.
Com dados integrados de saneamento básico, saúde e meio ambiente, é possível planejar ações preventivas e políticas públicas mais eficazes, conforme prevê o novo Marco Legal do Saneamento. A ampliação dos serviços de tratamento de esgoto reduz os despejos in natura em bacias, rios, córregos e mares. Com isso, a expectativa é que a universalização dos serviços de água e esgoto, além de reduzir o impacto no meio ambiente, diminuirá em até R$ 1,45 bilhão os custos anuais com saúde, segundo a Confederação Nacional da Indústria (CNI).
O agravamento da crise climática é outro fator a ser considerado nesse processo de transformação das cidades. Como exemplo, podemos falar sobre a maior cidade portuária da Coréia do Sul, Busan, que tem uma população de 3,4 milhões de pessoas e é vulnerável ao aumento do nível do mar, aos tufões e inundações. Em parceria com a ONU-Habitat e a empresa de tecnologia Oceanix, Busan será berço do protótipo de uma cidade flutuante, que consiste em uma série de plataformas que flutuam na água. Com capacidade para acomodar 10 mil pessoas, produzirá a própria comida, energia e água potável, sem gerar resíduos.
Em um mundo em que há cada vez mais refugiados do clima, a ação sinaliza para um futuro em que a criatividade se torna uma aliada para encontrar soluções coletivas.
No Brasil, a cidade de São José dos Campos se destaca entre o conceito de cidades inteligentes. E, para estimular e consolidar planejamentos que considerem os principais aspectos desse conceito, o Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Estado de São Paulo (Crea-SP) organizou uma série de encontros regionais para discutir o tema e produzir diagnósticos locais. Com a coleta de informações e a colaboração de profissionais da área tecnológica, mapeamos os municípios do Estado para entender os desafios e potenciais de cada região.
O resultado foi compilado em um diagnóstico das regiões, que auxiliará a percepção dos governos municipais e estadual, das instituições de ensino, órgãos públicos, empresas e sociedade sobre os próximos passos a serem traçados nessa empreitada. Foram destacadas 160 propostas elaboradas para solucionar os principais desafios regionais. Vale ressaltar que a perspectiva global é de que até 2024 sejam investidos cerca de US$ 203 bilhões em projetos da área. Pela sua projeção nacional e internacional, São Paulo precisa estar na dianteira dessa evolução.
* Vinicius Marchese é presidente do Crea-SP
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