Empresas não costumam ser muito transparentes sobre o que pensam de suas rivais de negócio. É raro citar produtos e adversários no mundo comercial. Todos adotam uma fleuma típica. Uma atitude que aparentemente mostra respeito, mas não consegue disfarçar a arrogância de quem se acha tão por cima que sequer cita concorrentes ou fatos que os atingem. Por isso, quando um executivo importante deixa escorregar uma frase – mesmo que de brincadeira – sobre outra empresa igualmente importante, é bom dar valor a isso. Pode haver muita lição por trás de somente algumas palavras.
É o que se pode concluir de um fato inusitado que ocorreu há poucos dias, na Índia, com o principal executivo da Microsoft. Em visita a seu país de origem, o CEO Satya Nadella, passou algum tempo no país para divulgar os novos rumos de sucesso da empresa que vem se transformando após alguns anos de erros administrativos e mostrar como um indiano (ele nasceu em Hyderabad e tem cidadania americana) pode ser alguém de sucesso na cultura ocidental, mesmo em tempos de intolerância com estrangeiros e culturas diferentes.
Mas o fato curioso ocorreu quando o CEO estava para entrar em uma conferência de imprensa, em conjunto com a lenda indiana do críquete, Anil Kumble. Todos lá sabiam que Nadella iria novamente falar da “Nova Microsoft”. O conceito reforçado por ele nessa visita à Índia é um apanhado de como a empresa saiu de uma “TI tradicional” para ser novamente uma das grandes transformadoras do mundo com tecnologias que são a cara do presente e do futuro.
Ao se aproximar do grupo de jornalistas, Nadella percebe que o enviado do TechRadar, Sahil Mohan Gupta, e mais um colega estão com iPads. Ao ver os tablets da Apple nas mãos de formadores de opinião locais, o CEO dispara, em tom humorado: “vocês precisam arrumar computadores de verdade, amigos”.
Adversários
A coletiva poderia ter acabado ali, naquele momento. A frase já explica tudo o que seria dito. A Microsoft mudou, não é mais só a criadora do Windows e do Office. A empresa, graças à Nadella, é hoje uma fornecedoras de serviços de cloud importantíssimos para o mundo corporativo, conseguiu emplacar um ótimo hardware portátil (a linha surface), tem uma excelente assistente virtual (Cortana) e ainda está investindo pesado em realidade virtual, computação quântica e inteligência artificial.
Com isso, a Apple é uma adversária a ser enfrentada. Assim como é o Google e a Amazon. Esse é um cenário muito diferente do que quando Nadella substituiu o então CEO da empresa, Steve Ballmer, em 2014. A Microsoft era tida como empresa em declínio certo porque havia perdido o bonde da mobilidade e não conseguia avançar além de ser a fabricante de um sistema operacional que deixava de ser importante como era no passado (o Windows) e uma suíte de escritório que ficava cada vez mais mastodôntica (o Office).
Se a mesma situação ocorresse antes dessa transformação toda, o executivo da Microsoft passaria sem qualquer comentário diante dos jornalistas. Eles simplesmente ignoraria que a pergunta real estava ali: “por que eles estão usando o equipamento que você não consegue fornecer?” E, começaria um discurso cheio de frases decoradas e fatos que não explicariam o motivo de um encontro com a imprensa.
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