Por Gabriel Tosto *
Os rumores sobre os unicórnios no Brasil são verdadeiros – e você nem precisa se esforçar muito para encontrá-los. Unicórnios – ou o apelido dado ao capital de risco para empresas iniciantes de tecnologia que, só nos Estados Unidos estão avaliadas em mais de 1 bilhão de dólares – têm sido avistados com certa frequência também por aqui, especialmente nas maiores cidades brasileiras.
Obviamente, como o nome já indica, os unicórnios significam algo de extremo valor, altamente desejável, mas, verdade seja dita, também difíceis de encontrar. A boa notícia é que, embora os unicórnios continuem sendo uma espécie rara nos negócios, eles não estão mais na lista de espécies ameaçadas de extinção.
De fato, 2018 foi um ano recorde para os unicórnios brasileiros. Por exemplo, a gigante paulista 99, de carros compartilhados, foi vendida por mais de US$ 1 bilhão em janeiro. A empresa de pagamentos PagSeguro, também sediada em São Paulo, captou US$ 2,7 bilhões no mesmo mês.
A Nubank, empresa de fintech da capital paulista, foi avaliada em mais de US$ 4 bilhões por investidores. Já o data center de TI Ascenty, com importantes operações na cidade de São Paulo e nos municípios de Jundiaí, Campinas, Hortolândia e Maracanaú, foi avaliado em US$ 1,8 bilhão em um acordo de aquisição parcial.
E as altas cifras não param por aí. A Arco Educação, fornecedora de sistemas de ensino com sede em São Paulo, foi avaliada em mais de US$ 1 bilhão no primeiro dia de sua oferta pública inicial. A Stone Pagamentos, também de São Paulo, recebeu capitalização de mercado inicial de US$ 8,7 bilhões.
O fato é que os dólares de investimento cresceram de verdade para os principais mercados da América Latina naquele ano, com as startups brasileiras e mexicanas capturando a maior parte dos valores.
De acordo com a LAVCA Investors (Associação de Investimento em Capital Privado da América Latina), organização sem fins lucrativos dedicada a apoiar o crescimento do capital privado na América Latina e Caribe, fintechs, marketplaces e startups de agrotech lideraram o ranking, em um volume sem precedentes de rodadas de financiamento que contou com a participação de múltiplos players globais.
Um bom exemplo é o SoftBank, que só no primeiro trimestre de 2019 anunciou um novo fundo de capital de risco de US $ 5 bilhões para investir em startups de tecnologia brasileiras e latino-americanas com foco em comércio eletrônico, serviços financeiros digitais, saúde, mobilidade e seguros.
Já uma análise realizada pela plataforma de protocolo de security token Polymath.com revela que os fundamentos econômicos da região são muito sólidos em comparação com a maioria dos outros mercados emergentes. Isso tudo, somado a uma classe média com considerável poder aquisitivo discricionário, torna a área uma forte candidata a experimentar ainda mais investimentos e um extraordinário salto tecnológico.
Os setores informais da economia brasileira, que historicamente atendem aos consumidores da classe média, estão à beira de uma transformação digital movida por tecnologia – o que, por sua vez, mudará o jogo, reduzindo significativamente os custos operacionais e de transação, além de fornecer serviços sob demanda e promover um crescimento econômico exponencial. A penetração generalizada da Internet e de smartphones no Brasil também acelerará esse crescimento.
Claro, nenhum desses desenvolvimentos deve ignorar a longa luta travada no Brasil pelo crescimento da produtividade, fator ainda considerado decepcionantemente baixo em comparação, por exemplo, com os índices da Índia ou China.
De fato, segundo o professor José Pastore, Presidente do Conselho de Emprego e Relações Trabalhistas de Fecomercio-SP, o trabalhador brasileiro leva uma hora para realizar a mesma quantidade de trabalho que um trabalhador norte-americano faz em 15 minutos, ou que um alemão ou trabalhador coreano pode fazer em 20. E o valor que cada trabalhador produz durante esse tempo, claro, varia proporcionalmente.
Em 2017, a produtividade no Brasil cresceu 4,5%, embora tenha diminuído para pouco menos de 1% no ano seguinte. Um dos fatores que parece estar liderando a mudança na direção certa para subir o percentual é o crescimento do trabalho remoto, realizado fora do escritório, da fábrica ou das tradicionais estações de trabalho.
Na verdade, trata-se do mesmo tipo de trabalho que as pessoas realizam em locais fixos, mas com a vantagem de ser ativado por links tecnológicos que dão acesso remoto, suporte e controles que permitem compartilhamento de tela, transferência de arquivos e comunicação de voz – e tudo isso em tempo real.
Os profissionais brasileiros, que representam cerca de 20% da força de trabalho do País, têm aderido cada vez mais a esse novo modelo de trabalho, realizando pelo menos parte de suas tarefas remotamente. Os números têm crescido significativamente nos últimos três anos.
Segundo pesquisa recente do Instituto de Pesquisa Ibope, softwares de acesso e suporte remoto ajudam a limitar as interrupções no trabalho, diminuindo o estresse, reduzindo a frustração e aumentando a motivação. Some-se a isso o fato de que ao eliminar o deslocamento, os funcionários ganham uma hora ou mais por dia para trabalhar ou buscar interesses pessoais, o que, por sua vez, aumenta a produtividade.
Esse é um dos benefícios do empregador, mas não o único. O trabalho remoto também reduz despesas de transporte, alimentação e café da própria empresa. Ainda mais significativo é a redução de custos derivados de aluguel de escritórios, estacionamento, móveis, serviços públicos e segurança. A estimativa é que, em um ambiente de escritório, a economia chegue a US$ 22.000 por funcionário remoto todos os anos.
Para o Brasil, que é maior que qualquer outro país da América do Sul, as distâncias podem ser grandes e os custos de viagem representam uma despesa comercial significativa. Com a tecnologia colaborativa e os funcionários estacionados em locais distantes, alguns desses custos de viagem podem ser eliminados.
Além disso, muitos dos mesmos recursos que a tecnologia de trabalho remoto oferece estão sendo usados para levar remotamente técnicos especializados a locais distantes, tornando possível treinar, aconselhar e apoiar seus colegas, mesmo estando a milhares de quilômetros uns dos outros.
Com tecnologia, o Brasil pode realizar uma revolução econômica sem precedentes, com fundamentos bem alicerçados para um aumento sustentável de produtividade e valor, beneficiando assim toda a nação. E, claro, os unicórnios estarão presentes.
* Gabriel Tosto é um dos executivos responsáveis, desde 2011, pela expansão da TeamViewer na América Latina.