Por Patricia Punder *
Os princípios ESG (meio-ambiente, sustentabilidade e governança, devidamente traduzidos da língua inglesa) virou um grande modismo no Brasil. Todos os meios de comunicação falam sobre o tema como se fosse algo muito simples de ser implementado. Surgiram artigos de todos os tipos e de todos os tamanhos sobre a importância do mesmo.
Não nego que seja importante. Pelo contrário, se tornou essencial. Entretanto, depende de vários fatores para que uma empresa possa realmente afirmar publicamente que possui um programa de ESG devidamente implementado e efetivo.
Nos Estados Unidos, estes princípios não são novos. O fundador da Microsoft já comentava sobre o mesmo faz tempo. O ex-presidente Barak Obama sempre lutou para que os Estados Unidos fossem um país voltado para a sustentabilidade e para a proteção do meio-ambiento. No mercado financeiro, temos expoentes como Larry Fink, CEO da BlackRock, que é uma das vozes mais ativas sobre a necessidade de as empresas tomarem atitudes voltadas para o meio-ambiente, sustentabilidade e governança.
Mas, será que o mundo dos negócios e os consumidores estão de fato preparados para todas as mudanças que envolvem estes princípios? Estamos prontos e maduros para deixar de consumir combustíveis fósseis? Ter um programa de governança forte e efetivo implementado nas empresas? Existe a transparência necessária perante todos os acionistas? As empresas possuem programas voltados para a sustentabilidade do entorno onde estão instaladas?
Creio que vontade existe, mas quando chega no momento de realmente iniciar, muitas vezes começa o movimento da postergação. Vamos começar a reduzir a emissão de gases estufa a partir de 2020, conforme determina o Acordo de Paris (tratado no âmbito da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima), mas até agora pouco foi realizado neste sentido. Ou então, existe o fechamento das fábricas da empresa Ford no Brasil em 2021, sem a menor preocupação com o impacto na sociedade local ou com os colaboradores, além de todo o dinheiro público investido durante anos para manter os subsídios desta empresa.
O papel da Ética Empresarial em relação à sustentabilidade deve ir além de meros dados estatísticos ou o chamado “marketing verde”, hoje utilizada como mera propaganda publicitária. Tal Ética deve resgatar valores morais que respeitem a vida, valorizem a dignidade humana, o bem-estar e não só de si mesmo, mas do outro.
Deve emanar a ideia de consumo dos recursos de forma racional e responsável, políticas públicas responsáveis de instrução e educação social, respeitando o direito à vida de outras espécies de seres vivos em geral, pois não somos os únicos “condôminos” deste planeta. Condôminos, pois vivemos em uso comum do meio-ambiente.
Ademais, a pandemia marcou um ponto de inflexão, refletido no fluxo de recursos para investimentos que seguem os princípios ESG. Temos de olhar para o E, mas também para o S e o G.
Não basta mais dar lucro e pagar dividendos, as empresas possuem a obrigação de compartilhar informações de forma transparente, precisa e com integridade ao divulgar seus balanços contábeis e relatórios aos investidores. Como também os mencionados relatórios devem conter as informações sobre como o lucro atingido será revertido, ou seja, não somente para os acionistas, mas para programas voltados ao desenvolvimento da sociedade em geral.
Sendo assim, perguntas que antes não eram realizadas agora fazem parte do cotidiano da Alta Direção das empresas, tais como: como atingimos esta meta? Foi atingida de forma ética? Os riscos socioambientais foram avaliados durante a tomada de decisão? Houve algum dano ambiental? Conseguimos gerar mais investimentos e reverter para a sociedade?
As empresas precisam da confiança de seus acionistas e da sociedade, pois caso ocorra uma crise que não tenho sido bem administrada, com certeza existirá o abalo na confiança e, consequentemente, acionistas e sociedade irão deixar de acreditar no discurso da empresa. Financeiramente, além das eventuais multas, também poderá ocasionar um forte movimento de impacto negativo nas ações existentes na bolsa de valores.
As companhias têm que ficar cada vez mais atentas a estes princípios, pois parte da sociedade começou a buscar informações para decidir se irá investir ou não em determinada empresa. Campanhas de marketing grandiosas não tem mais o mesmo alcance do passado. Propagandas sobre empresas que, de fato, não possuem um comportamento voltado para o meio-ambiente, sustentabilidade e governança são vistas por parte da sociedade com total descrédito ou mero modismo.
Trata-se de uma evolução, ou quem sabe de uma “revolução”, não apenas econômica, mas também na forma como as empresas irão incluir em seus negócios os controles necessários para resguardar o meio-ambiente, sustentabilidade e governança. As empresas estão diante não apenas de uma nova estratégia, mas de um diferencial competitivo no mercado. Vamos torcer para que levem a sério e não seja o novo modismo desta década.
Patricia Punder é advogada é compliance officer com experiência internacional
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