Facebook e Google declararam guerra aos conteúdos falsos e distorcidos que se beneficiam de seus sistemas para ganhar popularidade. As empresas divulgaram que irão, aos poucos, introduzir métodos para asfixiar economicamente sites que usam notícias faltas, aproveitando-se da ingenuidade dos usuários e de polêmicas infladas.
Mas o plano dos gigantes da internet é complicado. Ambas as empresas dependem do volume de cliques para impulsionarem a publicidade, que é a maior fonte de receita de seus negócios. E notícias falsas têm colaborado para aumentar os cliques, inclusive influenciando decisões importantes em alguns países.
Nenhuma das duas empresas detalhou como ou quando pretende fazer isso. Também não disseram de que forma conseguirão identificar tais sites e “carimbá-los” como sendo de conteúdo falso. O mais provável é que usem tecnologia de inteligência artificial para fazer isso, em vez de pessoas com funções de editores – como é o processo num jornal tradicional, por exemplo.
O número de páginas maliciosas que trabalham com notícias falsas, meias-verdades ou fatos distorcidos sempre foi um problema da internet. No último ano, esses noticiários caçadores de cliques e de ingenuidade de leitores têm sido acusados de influenciarem mais do que o jornalismo sério.
Evolução ou censura
Acontecimentos inesperados e recentes na política e economia são creditados à chamada “pós-verdade” (em inglês, post-truth). O termo surgiu para identificar a distorção de um fato em nome da circunstância e das crenças pessoais de quem está lendo, com a verdade ficando em um plano inferior.
Recentemente, o Facebook foi acusado de interferir na eleição de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos, deixando que difamações e mentiras ganhassem mais destaque do que fatos, debates e propostas. Sites fora dos EUA conseguiram muito dinheiro ao publicar notícias faltas sobre a opositora de Trump. Empresas da Macedônia divulgaram falsas notícias e isso conseguiu ser compartilhado por milhares de pessoas pelo mundo, gerando renda em cliques e publicidade para esses sites. O Brexit (saída do Reino Unido da União Europeia) também é creditado à força dos conteúdos duvidosos, influenciando eleitores que escolheram o isolamento.
Na segunda-feira, 14 de novembro, o Google anunciou que impedirá que sites que trabalham com conteúdo desonesto utilizem sua ferramenta de publicidade (AdWords). Horas depois, o Facebook se juntou à briga e comunicou que fará o mesmo em seus sistemas de publicidade on line (Audience Network). Ambas as medidas necessitarão de mudanças complicadas. Para dar certo, a nova determinação deve funcionar de forma automática e confiável.
As duas empresas já tiveram problemas ao deixar que usuários identificassem algum conteúdo falso ou de ódio. Grupos de pessoas se juntavam para mandar centenas de pedidos de uma vez e isso retirava o conteúdo do ar, sem qualquer averiguação. No fundo, os usuários usavam o sistema para praticar censura que beneficiasse suas próprias crenças.
O risco que ambas as empresas correm é serem rotuladas de praticar censura novamente. Outro perigo é que haja uma padronização que elimine totalmente contexto, figuras de linguagem, humor e ironia da internet. A iniciativa de Google e Facebook de melhorar o conteúdo pode ser a reforma que a internet precisa para garantir seu futuro, ou apenas o início de sua decadência para o tédio sem fim.
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