* Por Sylvia Bellio
Nas últimas semanas a opinião pública internacional ficou atônita com a declaração do destacado engenheiro do Google, James Damore, que argumentou que supostamente as diferenças biológicas entre homens e mulheres eram a causa da baixa presença do sexo feminino na área de TI. Tanto a imprensa norte-americana como internacional, interpretaram a afirmação como “sexista”, o que acabou se confirmando com a demissão do executivo.
Ainda que nós mulheres não tenhamos uma representação massiva nesse mercado, há um gradual e vigoroso desenvolvimento da presença de pessoas do sexo feminino no segmento. Hoje fica claro que as mulheres estão conquistando cada vez mais espaço no mercado de trabalho, e em ambientes que isso não era muito comum. Essa tendência, seguramente, irá se ampliar cada vez mais nos próximos anos.
Não podemos concordar, portanto, com o estereótipo pronunciado por aquele profissional de que haveria uma aptidão natural dos homens para o pensamento sistemático o que os tornaria mais propensos à programação de computadores do que as mulheres e que “elas são mais inclinadas aos sentimentos do que a ideias e por isso ocupam vagas ligadas à área social e artística”.
A competência e destreza dependem de cada pessoa não do sexo. Não se pode generalizar e dizer que pelo fato de ser mulher, alguém não terá condições de fazer algumas coisas, biologicamente falando, que o homem pode fazer. Nunca se deve generalizar e advogar que uma mulher não poderá ou não conseguirá. Se nós conseguimos trabalhar com cólica, ser mãe e fazer uma infinidade de coisas, por que não ser CEO de uma empresa de tecnologia?
A força de vendas de nossa empresa na região Sul tem apenas presença de homens, em compensação no escritório de vendas de São Paulo a esmagadora maioria é de mulheres. Não há preferência biológica, depende apenas da competência e qualificação e não existe distinção salarial por causa do sexo. Todo profissional, mulher ou homem, precisa estudar, ler, se informar, se especializar, participar de treinamentos e congressos na sua área de atuação. Hoje é mais fácil buscar informações que há décadas atrás.
Há 20 anos, a visão do homem sobre a mulher era bem difícil quando ela ocupava espaço no mercado da tecnologia. No período que fiz o curso técnico, a classe era composta por 40 homens e apenas 6 mulheres, e havia uma certa restrição masculina quando respondíamos com convicção ao professor sobre um assunto qualquer. Os homens nos subestimavam, desdenhando nossas respostas. Portanto, havia discriminação por ser uma área técnica essencialmente masculina.
Hoje, o mercado está mais aberto, porém, já participei de reuniões de negócios onde surgiram dúvidas técnicas e minhas respostas foram questionadas, provavelmente porque sou mulher e CEO, com foco na área comercial da minha empresa. Uma vez até perguntaram sobre a ausência de um técnico, pois o cliente se sentiu incomodado com esse fator. Neste caso, é importante como a mulher reage à discriminação. Ela deve provar com seu trabalho, conhecimento e competência porque está ali naquela posição. No decorrer de uma reunião é necessário demonstrar conhecimento e o lastro sobre o assunto, isso acaba gerando mais credibilidade para a mulher como profissional.
Avanço feminino
Números estimulantes confirmam a ampliação do poder feminino. De acordo com a pesquisa Dell “WE Cities” Index, o índice de empreendedorismo das mulheres em Tecnologia da Informação está crescendo mais de 10% a cada ano. O levantamento verificou que as cidades de Nova York, Londres, Boston, Estocolmo e a região metropolitana de São Francisco são as cinco maiores cidades de grande potencial para as mulheres empresárias. A conclusão desse trabalho foi a de que se não houver restrição para o empreendedorismo feminino, ocorre naturalmente um expressivo aumento nas perspectivas econômicas de uma cidade.
Todo esforço de mobilização das mulheres hoje tem como alvo a conquista de mais espaço e a luta para igualdade de gênero. Vamos avançando em várias frentes para a alcançarmos nossos ideais políticos, sociais e filosóficos. A busca é pelo desmantelamento da cultura patriarcal a fim de conquistarmos mais oportunidades de trabalho e posições de destaque na sociedade. Aos poucos o mercado profissional tem se modificado, até mesmo na questão do salário, mas ainda há um longo caminho a ser vencido para se chegar ao nível ideal. E para reforçar esse ciclo virtuoso, no momento, frisamos que oito mulheres ocupam cargos de comando em grandes empresas no mundo, conforme uma pesquisa da consultoria McKinsey & Co.
Nossa empresa, a It Line, é um expressivo canal de vendas da companhia Dell Inc., uma das maiores do mundo em produtos e serviços de TI. Anualmente a organização promove o evento Dell Women’s Entrepeneur Networking 2017 (DWEN) ou Rede de Mulheres Empresárias. O encontro visa o empoderamento feminino na gestão dos negócios. Participei da recente edição, em São Francisco (EUA), na qual foram apresentadas experiências estimulantes de empresárias, executivas e empreendedoras estrangeiras. Desta vez, houve a participação de 200 mulheres de negócios de 20 países diferentes, além de palestrantes, executivos, convidados especiais e profissionais de uma ampla área de aplicação de TI.
É cada vez mais evidente a pujante evolução da presença do antigo “sexo frágil” no mundo tecnológico. Biologicamente já somos preparadas, cabe a cada mulher, portanto, alcançar seu espaço com determinação, conhecimento, fazendo sua parte para contribuir com um mercado de trabalho cada vez mais igualitário.
* diretora geral da IT Line
Acesse os outros sites da VideoPress
Portal Vida Moderna – www.vidamoderna.com.br
Radar Nacional – www.radarnacional.com.br
–