Um trabalho inédito na América do Sul, que utiliza o que existe de mais moderno para monitoramento de peixes, está sendo realizado na Hidrelétrica Santo Antônio, localizada no rio Madeira, distante sete quilômetros de Porto Velho (RO). O objetivo é estudar o comportamento do grande bagre migrador da Amazônia, a Dourada, dentro do Sistema de Transposição de Peixes (STP) da usina, que é o canal que reproduz as condições do rio, garantindo que os peixes ultrapassem a barragem e sigam normalmente seu caminho na época da piracema.
A Dourada foi escolhida para este estudo por sua importância econômica para Rondônia, sendo muito apreciada pelo sabor e baixo teor de gordura. É também um dos peixes que faz a mais longa migração reprodutiva, chegando a nadar mais de quatro mil quilômetros entre a foz do rio Amazonas até a região dos Andes.
Com os dados sobre a movimentação da Dourada dentro do canal da hidrelétrica, que possui 900 metros de extensão, será possível saber em quais trechos ela se movimenta mais rápido ou mais lentamente, e em que local gasta mais energia, o que permitirá propor melhorias para que a estrutura seja ainda mais eficiente. “Temos registros fotográficos e filmagens que mostram que a Dourada já utiliza o STP da hidrelétrica, por isso propomos este estudo que nos indicará, por exemplo, se há algum trecho do canal em que a correnteza está mais forte, dificultando a subida dos peixes. Assim, podemos construir mais áreas de descanso ou mecanismos que diminuam a vazão dentro do sistema”, explica a bióloga da Santo Antônio Energia, Marcela Velludo.
Para a realização deste monitoramento, as Douradas são recolhidas no rio Madeira e levadas para o Laboratório de Reprodução de Peixes da hidrelétrica, onde passam por uma pequena cirurgia para implantação do transmissor de “telemetria de eletromiograma”. O nome é difícil, mas o procedimento é simples e dura cerca de apenas cinco minutos. O peixe é anestesiado, levado para uma maca, e então recebe um transmissor (chip), que é colocado em sua barriga, e dois eletrodos, que são colocados no músculo próximo à nadadeira. Depois disso, ele é solto no canal da usina que possui antenas que recebem os dados do chip.
Este monitoramento começou em meados de junho. Já foram marcadas 27 Douradas, sendo que a maior delas tinha 39 quilos. “Os dados dos transmissores colocados nos peixes chegam em nossos receptores e indicam o movimento que eles estão fazendo em cada trecho do canal. É a primeira vez que uma hidrelétrica da América do Sul utiliza esta técnica”, afirma a bióloga Lisiane Hahn, diretora da empresa Neotropical, contratada pela Santo Antônio Energia para a realização dos monitoramentos na hidrelétrica. “Desta maneira, se houver necessidade, será possível adequar trechos do canal de acordo com a necessidade do peixe”, acrescenta. Até o mês de agosto serão marcadas 50 Douradas.
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