por Alexandre Bernardoni*
Inteligência artificial (IA) continua sendo um tema muito quente em 2018.
O avanço do impacto da inteligência artificial nos negócios é uma das principais previsões de tecnologia para 2018 do Gartner, Accenture, Forrester, Deloitte e provavelmente da grande maioria dos institutos de pesquisa com listas semelhantes.
Em 2017 foram feitos avanços incríveis. A capacidade de reconhecimento de imagens, voz e rostos continua avançando e já se equipara ou ultrapassa a capacidade humana. Tivemos iniciativas criativas e com grande potencial, como o AlphaGo Zero, do Google, que se tornou rapidamente o melhor jogador de Go existente, superando a sua versão anterior.
Para entender o que é revolucionário nesse projeto, vale lembrar que Go é um jogo de tabuleiro chinês milenar que era alvo dos pesquisadores de inteligência artificial há anos. Com regras simples e estratégias complexas, somente em 2016 um computador conseguiu ganhar do campeão mundial. Como comparação, o xadrez já havia sido dominado pela inteligência artificial em 1997, nas famosas partidas do Kasparov com o Deep Blue, da IBM.
O software que ganhou do campeão mundial de Go em 2016 foi o Alpha Go, que havia sido treinado com dados de milhares de jogos realizados em competições de Go. No ano passado, em uma abordagem completamente diferente, foi criado o AlphaGo Zero, que treinou jogando com si mesmo, sem dados históricos e sem intervenção humana. Ao longo dos jogos, ele foi aprendendo e, sem se limitar ao que os humanos já sabiam, percebeu nuances e inventou estratégias nunca antes exploradas nos milhares de anos de existência do jogo. E, em muito pouco tempo, se tornou o melhor jogador de Go do universo, ganhando facilmente do Alpha Go original. Isso pode ser aplicado a outros campos de conhecimento, como cura de doenças ou pesquisas de novos materiais.
Em 2017 também continuou acirrada a briga entre os gigantes Amazon, Google, IBM, Facebook e Microsoft para ocupar o espaço de fornecedor de inteligência artificial. Essas empresas e seus exércitos de pesquisadores continuaram a evoluir algoritmos e a processar quantidades descomunais de informação para fornecer I.A. como um serviço, disponível por meio de APIs ou de produtos open-source, como o TensorFlow(Google), PyTorch (Facebook) ou o Gluon (Microsoft e Amazon).
Além disso, existe um esforço dos grandes players para simplificar o uso da tecnologia, com iniciativas como o Azure Machine Learning Studio (Microsoft) ou o recém lançado Cloud AutoML (Google).
Existe muita tecnologia disponível para ser utilizada na nuvem. Não é necessário ter um time de pesquisadores acadêmicos para aplicar Inteligência Artificial.
Isso beneficia muito as empresas de tecnologia em geral. Com o acesso a essa capacidade houve um grande aumento no aparecimento de startups que estão aplicando I.A. para resolver problemas de negócio. Temos no Brasil dezenas de empresas trabalhando para reinventar mercados tão diversos como agricultura, transportes, saúde, atendimento a clientes, e-commerce e financeiro.
Mas também há grandes gargalos de capacitação. Existe, obviamente, falta de profissionais técnicos qualificados, e uma dificuldade mais sutil e impactante: falta visão de negócio aos gestores sobre o que é e como Inteligência Artificial pode ser aplicada.
Talvez, por isso, hoje muito mais se fala do que se utiliza I.A. Segundo o Gartner, somente 4% das organizações têm algum projeto que usa I.A. em produção, 21% estão testando / planejando, e os outros 75% não têm nada em andamento.
No mercado brasileiro muito dos projetos que aparecem ainda acabam tendo mais o objetivo de gerar buzz (“Empresa X usa Watson para algo-super-pontual”) do que um impacto real nos negócios.
Todo empreendedor, em especial do setor de tecnologia, deveria buscar capacitação para entender as possibilidades de negócio no uso dessa tecnologia e como isso pode ajudar a impactar o seu mercado.
O mesmo Gartner que diz que somente 4% das empresas têm projetos implantados, prevê que, em 2020, 85% delas terão projetos implantados ou em andamento.
Existe um espaço enorme para inovação que mal começou a ser explorado!
*Alexandre Bernardoni é Co-founder & Chief Product Officer na Hi Platform e Conselheiro da ABRIA (Associação Brasileira de Inteligência Artificial)