Home CORPORATE ARTIGO O Facebook at Work pode mudar o jogo?

O Facebook at Work pode mudar o jogo?



Claudio Ferreira*

Os fatos, ou mesmo o histórico da empresa, mostram grande dificuldade da rede social para sair do universo do usuário final e chegar às empresas com ferramentas e soluções relevantes. Será que o lançamento do Facebook at Work pode mudar o jogo?

É inegável o sucesso do Facebook. E, por conta desse atributo, o serviço se tornou a mais rica “janela social” para que empresas possam avaliar e divulgar seus produtos, serviços e relevância da marca. No entanto, a plataforma criada por Mark Zuckerberg ainda não consegue se conectar organicamente com o coração das empresas, mesmo depois de aquisições e lançamentos que ainda não deram certo.

O próximo ataque é o Facebook at Work, uma solução abrangente que carrega a promessa (ou premissa?) de oferecer um upgrade na produtividade dos usuários corporativos. Será que dará certo?



Ainda é cedo para saber, mas podemos traçar uma rota de compreensão dos obstáculos. Primeiro, o Face at Work faz parte da obsessão de Zuckerberg em ser relevante para as empresas, algo que foi determinante, por exemplo, para que o Face comprasse o WhatsApp. Aplicativo que poderia ser um aríete importante para entrar com energia no ambiente corporativo. Porém, até agora, as iniciativas de pessoas que trabalham no mesmo ambiente e criam grupos é mais relevante que os esforços esparsos de empresas que pretendem fazer de seu uso algo sistemático.

Algo semelhante foi tentado com o Messenger. Acrescentado as apps do Face em 2011, primeiro como aplicativo que tentou melhorar a experiência de chat da marca até que, no ano passado, foi devidamente removido do ambiente, podendo ser baixado em separado. Qual o resultado de ter WhatsApp e Messenger em sua “carteira”, quando ambos têm um grande “mancha” de atuação em comum? Nulo, pelo menos na ótica do mercado corporativo, enquanto o Whats segue ganhando terreno entre os usuários finais.

O concorrente é meu
Algo semelhante ao que ocorreu com o Facebook Camera, lançado em 2012 e que muita gente nem sabe que existe, e a aquisição do Instagram. Para que ter duas ferramentas iguais? A consequência, óbvia, o Face acabou por matar o Camera no ano passado. Ou seja, se a sua ferramenta não consegue ser hegemônica compre a concorrência, certo?!

A única diferença é que o Instagram (ou mesmo o Camera) não tem penetração ou “serventia” junto às empresas. O exemplo serve apenas para mostrar como nem sempre muito dinheiro e alguma ambição na cabeça pode resultar em algo concreto.

Outra ferramenta, a Mentions, lançada no meio de 2014 nos Estados Unidos, que pode no futuro chegar a ser interessante para o mercado corporativo, ainda está em “beta disfarçado”. Disponível apenas na terra do Tio Sam, a solução mede e sinaliza o que as pessoas estão falando ou quais menções são feitas. É usado hoje por celebridades e atletas. No futuro, quem sabe, pode ser um termômetro interessante para marcas e produtos/serviços.

Outra ferramenta que pode vir a ser interessante é a Rooms, voltada para chats com o uso massivo de imagens e mascaramento de identidade. Ainda limitado e com apenas cinco meses de estrada, se ele pegar pode ser uma alternativa para empresas – embora, deva ser vista com cautela pelo anonimato envolvido – aos velhos e bons grupos de discussão que proliferam ao entender como seus consumidores e as pessoas veem sua marca, um novo lançamento de produto etc.

O mesmo pé atrás ou expectativa pode estar no app Groups, que permite gerenciar grupos no Face. Ele tem um ótimo potencial, tem sido baixado e profusão e velocidade – com apenas quatro meses de vida – e pode ser uma alternativa às redes sociais de nicho – que tratamos aqui recentemente. Quem sabe sendo uma ponte mais direta e rápida entre produtos e serviços e um consumidor em potencial.

Original ou não?
Esses exemplos são importantes para tirarmos conclusões quanto ao Facebook at Work. Lançado recentemente, o aplicativo está em fase de testes com companhias parceiras – como avisou a assessoria de imprensa do Facebook no Brasil – e seu objetivo é ousado: criar um espaço colaborativo para que as pessoas de uma mesma empresa possam conectar seus colegas em tempo real em um espaço específico na rede, fora do ambiente aberto do Face, porém com interface e funcionalidades que os aproximam.

Alguns analistas chamam o Face at Work de “Linkedrive”, uma espécie de mix entre o Linkedin e o Google Drive. Outros, no entanto, o chamam pejorativamente de “Outlook do Face”. O certo é que o público potencial do serviço existe – as pessoas que trabalham e estão no Face –, entretanto resta saber se as corporações vão abraçar a ideia.

O maior problema do Face é que eles ainda estão na fase da cópia de produtos – algo como o Japão na década de 1960 ou a China no final do século 20 – e vão atrás do que já deu certo, copiando abertamente ou comprando o modelo vencedor. O mesmo pode ser dito do Facebook at Work, ele não traz inovação – para quem já o viu – e apenas “embala” ou junta coisas que deram certo.

Ok, tem gente que prefere a cópia ou algo que lhe é familiar, mas o veredito final do sucesso ou fracasso será dado pelos usuários e pelas empresas que podem “comprar” ou não a ideia. Isso é o que veremos nos próximos meses ou no médio prazo. O certo é que o Facebook (e Zuckerberg) tem muita lenha, quer dizer, dinheiro para queimar até que o seu intento aconteça.


*Cláudio Ferreira é jornalista, especializado em TIC, e colaborador do VOIT