* Por Márcia Ogawa
O bitcoin, juntamente com outras criptomoedas, pode ter implicações não só para o setor de tecnologia, em que se concentra grande parte da ação, mas também para outros setores, desde o varejo até os serviços financeiros.
O frenesi do bitcoin parece ter atingido novas alturas ultimamente, estimulado por uma base crescente de usuários, pela volatilidade dos preços e rápida evolução das redes de empresas ligadas ao bitcoin. Notícias de grandes investimentos em equipamentos de “mineração” e a expansão do ecossistema de apoio ao protocolo nos fazem lembrar, em muitos aspectos, uma corrida do ouro – uma analogia facilitada pelas outras semelhanças do bitcoin com o metal precioso.
Os princípios do bitcoin
O bitcoin é uma criptomoeda, uma alternativa digital ao dinheiro tradicional, que depende de criptografia para funcionar. O protocolo bitcoin, um sistema de processos de código aberto, rege a moeda e é fundamentalmente respaldado por uma rede peer-to-peer. Esse projeto também faz do bitcoin uma rede de pagamentos que existe fora do sistema de pagamento tradicional. Ao contrário das moedas mais tradicionais, não há nenhuma autoridade principal por trás do bitcoin. A Fundação Bitcoin, um grupo de defesa, ajuda a respaldar o uso da moeda.
Os primeiros bitcoins chegaram ao mercado em 2009, com valor de praticamente nada em termos de dólares. A complexidade do protocolo limitava o uso a quem tinha experiência com software e um interesse específico em moedas digitais alternativas.
Assim que a moeda amadureceu, um ecossistema de provedores de serviço foi desenvolvido a fim de facilitar as transações para que qualquer pessoa pudesse participar, mesmo quem não tinha conhecimento técnico da moeda.
Esse ecossistema global ainda em crescimento inclui estabelecimentos, processadores de pagamento, soluções bancárias e de carteira digital e plataformas de comércio e câmbio.
O desenvolvimento do ecossistema e a crescente atenção da mídia têm aumentado o interesse geral no bitcoin, estimulando nova demanda (de certo modo especulativa) e elevando o preço de um único bitcoin para mais de mil dólares em dezembro de 2013. Mais recentemente, o preço caiu em resposta à evolução normativa e a problemas operacionais em vários grandes operadores de troca de bitcoins. Como reserva de valor, uma das principais finalidades do dinheiro, a utilidade do bitcoin é atualmente limitada.
A alta volatilidade e um clima normativo incerto impedem-no de ter os benefícios de uma moeda como o dólar, o iene ou o euro. Além disso, quase a metade dos bitcoins é declaradamente detida por menos de mil indivíduos, uma concentração de poder de mercado que lança dúvidas sobre a robustez dos preços do bitcoin. Mas o bitcoin pode ter uma utilidade mais clara pela forma como difere do ouro: o uso como meio de troca direto. Para certos tipos de pagamentos, tais como transferências internacionais de pessoa a pessoa, os baixos custos de transação do bitcoin, seu alcance internacional, a velocidade de transferência e a facilidade de uso, podem torná-lo uma alternativa popular entre alguns segmentos. O impacto potencial do bitcoin é significativo, apesar de uma aceitação generalizada ainda ser um cenário improvável. Para que o bitcoin entre para valer, pelo menos três condições devem ser atendidas: estabilidade, aceitação e confiança.
Uma das principais incertezas enfrentadas pelo bitcoin e por outras moedas digitais alternativas é o ambiente normativo. Normas claras, especialmente em áreas como impostos, contabilidade e lavagem de dinheiro, podem aumentar a aceitação do bitcoin e fornecer uma medida de estabilidade e confiança.
Implicações para os serviços financeiros
Independentemente de essas condições serem atendidas, o bitcoin pode potencialmente permear inovação para uma ampla gama de instituições, inclusive no setor bancário tradicional.
Implicações comerciais
Pagamentos: transferências entre indivíduos por meio do bitcoin são mais rápidas, mais simples e menos caras do que as oferecidas por muitas empresas de serviços financeiros. As empresas podem precisar inovar para manter sua hegemonia nesse espaço.
Implicações institucionais
Estabelecer uma marca forte nas etapas iniciais da tendência de moeda digital alternativa pode trazer vantagem competitiva substancial nos próximos anos, mas as empresas precisam considerar cuidadosamente o leque de resultados. Mudar muito rapidamente pode resultar em excesso de exposição – e constrangimento – se o bitcoin for aceito na cultura predominante.
*Márcia Ogawa é sócia da área de Consultoria da Deloitte, líder das soluções em Analytics no Brasil e especialista no setor financeiro
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