por Janaína Spolidorio*
Por alguns anos, a letra cursiva ficou nos bastidores da fase de alfabetização. Havia quem fosse totalmente contra ( muitos, por sinal ) e a pequena minoria a favor. Diga-se de passagem que a letra cursiva é trabalhosa de ensinar, ainda mais quando a escola não trabalha com a coordenação motora fina como deveria.
Eis o ponto onde quero chegar… só para começar! A coordenação motora fina é pouquíssimo trabalhada e ficou quase esquecida durante pelo menos uma década – e até um pouquinho mais. Como ensinar alguém que não tem a destreza necessária para utilizar letra cursiva, a fazer letra cursiva? O desafio era gigantesco, por isso, durante este “limbo” educacional esta letra era considerada até obsoleta.
Muitos ainda são contra, afinal de contas,… [read more=”Continuar lendo…” less=”Menos”]
…“depois que fica adulto, nem usa mais essa letra” ou “dá muito trabalho e hoje com a tecnologia não tem necessidade de usar” ou “jornais, revistas, sites usam letra imprensa, então por qual motivo devo ensinar a cursiva?”.
Estas são algumas das observações feitas por quem não utiliza ou é contra o uso desta forma de escrita, mas analise bem os argumentos e me diga qual deles falou, em algum momento, do desenvolvimento da aprendizagem… Pois é, note que nenhum deles. São até, de certa forma, negativistas.
A razão deste artigo é explicar alguns fatores que SIM, são fundamentados e têm explicação, para justificar por qual motivo ela está voltando às escolas. A partir deste momento, se mostre mais aberto, pelo menos para o que está por vir! Afinal de contas, minha meta é comprovar que os benefícios para seu uso justificam sua volta, e posso falar com vontade sobre o assunto, porque mesmo durante o “limbo” da cursiva, fiz questão de ensiná-la a todas as minhas turmas de alfabetização!
Mesmo no tempo em que vivemos, de e-mails, mensagens de voz e tweets, é imprescindível que o aluno também tenha contato com as ideias que são colocadas no papel, em letra cursiva. O ato de escrever neste tipo de letra estimula o desenvolvimento de áreas no cérebro responsáveis pelo pensamento, pela linguagem e, mais importante ainda, memória de trabalho.
O ato de escrever fisicamente em cursiva aumenta a compreensão e participação do aluno em relação aos textos que lê e escreve. O fato de a letra cursiva ter detalhes como segmentação clara entre as palavras, uso de letras maiúsculas e minúsculas, delonga no movimento, por ter maiores detalhes do seu design, criam uma interação que ainda não é possível quando utilizada a letra bastão ou a letra imprensa, ou até mesmo quando usamos de recursos como digitar. O resultado não é o mesmo.
A maior prova de que a cursiva pode fazer a diferença, tornando o ensino melhor e a aprendizagem mais efetiva são os resultados de exames de avaliação, como o PISA, por exemplo, que comprovam como houve piora no item “interpretação de textos” em nossos alunos e o panorama deste fato é bastante generalizado, com poucas exceções.
Não há problema que mais tarde o aluno abandone o uso da cursiva! O importante é que ele tenha acesso a ela na idade adequada, que é a faixa de alfabetização.
Um outro mito que foi criado durante o “limbo” da cursiva era em relação à alfabetização. Se o aluno não era alfabetizado, não deveria usar. Digo mito, porque mesmo antes da alfabetização, se o aluno não atribui significado ainda às letras, não há problema o treino do desenho, pois ele será já preparatório para quando o aluno tiver o conhecimento necessário para sua identificação.
A cursiva, em resumo, é vital para auxiliar o aluno na criação de novas conexões de interpretação em seu cérebro, novas sinapses. Ajuda na expressão escrita, pensamento crítico e suas habilidades vão muito além do que curvas num papel, serão usadas na vida além da aula.
*Janaína Spolidorio é formada em Letras, com pós-graduação em consciência fonológica e tecnologias aplicadas à educação e MBA em Marketing Digital
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