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Quem tem boca tem que zelar pela saúde

Dia Nacional da Saúde Bucal reforça a necessidade de zelar pelas boas condições de todo o corpo - o que envolve inclusive a saúde mental

Qualicorp + Orthopride


por Celso Visconti Evangelista*

A higiene bucal tem uma longa história. Os primeiros registros de objetos para limpeza da boca datam de mais de 5 mil anos, na Babilônia. Pela cultura muçulmana se conhece o miswak, um ramo de uma árvore (Salvadora persica) que, não por acaso, é chamada de “árvore de escova de dentes”. Modos de se substituir dentes perdidos, por sua vez, também têm uma (não tão) longa história – a primeira evidência de prótese dentária, encontrada em 2016, data de algum momento entre os séculos 14 e 17.



Mais moderna é a preocupação sobre como saúde bucal e saúde como um todo se integram. Quem tem diabetes, por exemplo, precisa ficar atento a efeitos da doença como dificuldades de cicatrização, risco elevado de infecções e perdas ósseas. Não basta ter a diabetes sob controle – é preciso um cuidado especial com a higiene bucal. Quem não tem diabetes, no entanto, não deve baixar a guarda. É comum, infelizmente, que a ansiedade e o estresse acabem sendo compensados por consumo em quantidades excessivas de açúcar ou alimentos ultraprocessados. Disso não só podem surgir ou serem agravados problemas como obesidade, doenças cardiovasculares (e mesmo diabetes) como cáries, inflamações gengivais e infecções.

A boca é a maior cavidade do corpo, e está muito exposta ao contato com o ambiente – sendo, assim, a porta de entrada de bactérias e microorganismos, que podem ser muito prejudiciais à saúde geral do corpo. O dia 25 de outubro é o Dia Nacional da Saúde Bucal, instituído por lei em 2002, e serve para reforçar a necessidade de se prestar atenção a esse aspecto de nossa saúde geral – que muitos acabam negligenciando, mas que não deveriam. Segundo o CFO (Conselho Federal de Odontologia), o Brasil tem hoje, apenas contando cirurgiões-dentistas, mais de 380 mil profissionais em atuação. Além disso, o país tem excelência no ensino da odontologia: o ranking QS World University tinha em 2018 três universidades brasileiras entre as 50 melhores do mundo na área.

E alguns dados mostram que a saúde bucal vem ganhando atenção, de fato: a PNS (Pesquisa Nacional de Saúde) 2019, do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – realizada em convênio com o Ministério da Saúde) mostrou que 78,2 milhões de pessoas a partir dos 18 anos haviam ido ao dentista nos 12 meses anteriores à entrevista feita para o levantamento. E os bons hábitos da escovação ao menos duas vezes por dia (93,6% das pessoas a partir dos 18 anos) e do uso de fio dental (63%) vêm crescendo (ainda que precisem seguir avançando). Ao mesmo tempo, no entanto, um em cada três adultos (33%) usava algum tipo de prótese dentária (dado praticamente estável, se comparado ao do levantamento de 2013 – que mostrava 33,4%).

A saúde bucal e dentária também tem um papel de grande relevância em nosso convívio social. Dentição em más condições pode levar mesmo ao afastamento do convívio social: a pessoa deixa de frequentar eventos como festas de amigos ou da família; tende a sorrir menos, o que passa a quem está próximo uma impressão errada, de mau humor ou de antipatia; e fere a autoestima profundamente, ainda mais em uma sociedade em que redes sociais e as fotografias ganharam tanto peso. No limite, isso pode contribuir para provocar ou agravar transtornos mentais, como nos quadros de ansiedade e depressivos. Mesmo a saúde mental, como se vê, tem sua conexão com a saúde bucal.

A OMS (Organização Mundial de Saúde) define “saúde”, desde 1946, como “um estado de completo bem-estar físico, mental e social e não somente ausência de afecções e enfermidades”. Persiste entre as pessoas a noção, muito equivocada, de que cuidar da saúde é ir atrás de uma cura quando sentimos algo de errado com o corpo – e, no caso da saúde bucal, ainda há uma certa tendência a só buscar o dentista quando algum dente dói. Em nossa era digital, isso vem diminuindo. As gerações mais jovens se preocupam e cuidam mais da saúde, da boca, do corpo e da mente, recorrendo, inclusive, ao uso de apps que ajudam nesse cuidado.

O principal traço da condição humana é a interação interpessoal, nossa história é marcada por encontros transformadores, que só podem existir por meio da comunicação inter-corpórea e, nesse sentido, a boca é o principal canal pelo qual nos fazemos conhecer pelo outro, pelo mundo. Nós falamos sobre nossas ideias, traduzimos nossos sentimentos em palavras por meio da voz. Nada mais apropriado que preservemos esse instrumento de comunicação, de modo que seja parte de nossa apresentação à sociedade. Uma boca saudável sempre será uma forma de abrirmos portas mundo afora. Como diz a frase atribuída ao filósofo francês Pierre Teilhard de Chardin: “Nada resiste à pessoa que sorri para a vida”.

*Celso Visconti Evangelista é médico e diretor da Qualicorp, responsável pelo Programa Qualiviva