Por Syomara Cristina Szmidziuk *
Com a adoção do home office por inúmeras empresas em 2020 – e a decisão por manter essa modalidade de trabalho, em muitos casos – o que era provisório acaba se tornando definitivo, e mais do que nunca é importante adequar os hábitos de postura e saúde.
No trabalho remoto, quando nem sempre as pessoas têm toda a ergonomia necessária ao posto de trabalho, os erros mais frequentes são a coluna curvada, o pescoço inclinado, a cabeça muito perto do monitor. E, principalmente, permanecer na mesma postura por muito tempo. Separamos algumas dicas para criar o posto de trabalho ideal em casa:
1) O cotovelo deve estar apoiado, e não solto;
2) O monitor deve estar na altura do olho, não muito baixo nem muito alto;
3) A cadeira também não pode ser muito alta ou muito baixa;
4) É importante respeitar a rotina para evitar o esforço continuado;
5) Respeite horários de almoço, café e alongamento;
6) Garanta boa iluminação;
7) Evite o excesso de livros ou pastas sobre ou abaixo da mesa;
8) A cadeira deve deslizar para baixo da mesa, não pode haver madeiras que o impeçam;
9) Evite comer na mesa – seja pela distração, que atrapalha a nutrição, seja pelo risco de quedas no equipamento, e ainda pelo respeito aos horários de comer;
10) Alongue-se, estique-se, faça pausas: esse espaço deve ser respeitado;
11) Nunca trabalhe na cama ou sofá, devido à postura errada, que pode trazer a hérnia de disco no pescoço; e, finalmente,
12) Atenção à postura ao celular.
Sobretudo, a dica mais relevante que trago é: imite o gato. Quando ele está em descanso, ele se alonga, e somente após o alongamento se movimenta. Mesmo no meio de brincadeiras, ele para tudo e se estica.
Nós, seres humanos, precisamos também esticar a coluna, mãos, corpo, pescoço – esse é o fator mais importante para evitar lesões. É claro que equipamentos adequados ajudam também: uma cadeira com angulação de 90 a 110 graus entre o encosto e assento; o apoio com gel para mouse e teclado; o apoio para os pés (invista neles! Podem até ser livros, mas com alguma angulação); apoio para monitor e celular; fones de ouvido para reuniões, de preferência num local fixo de trabalho e tentar bloquear ruídos externos.
Conheça as lesões mais frequentes no trabalho
Os problemas mais frequentes de lesão por esforço repetitivo envolvendo ombros, cotovelos, punho e mãos são as tendinites (inflamação do tendão) e as tenossinovites. As síndromes mais comuns são a bursite (síndrome de impacto) de ombro, as epicondilites, síndromes de Guyon, do Túnel do Carpo e de Quervain.
Muitas vezes, os sintomas são os mesmos: dor, formigamento, dormência, peso, calor, fadiga, perda de força e de função. Normalmente, a dor relacionada à lesão por esforço repetitivo é constante. Já na inflamação, trata-se de uma dor aguda – a pessoa parte para os anti-inflamatórios, e por vezes necessita até de antibióticos ou da temida cirurgia.
Lamento quando se chega a esse ponto, porque cada cirurgia tem por resultado 30% menos força. Isso porque o tendão funciona como um elástico. Quando ele se rompe, enrola, e quando é novamente esticado, ocorre a diminuição da força.
Em relação à mão, minha especialidade, é preciso saber que se trata de um membro muito complexo. Do braço até a mão, temos 20 músculos, mais a bainha e os tendões. Uma cirurgia nessa região é muito minuciosa, e requer, muitas vezes, o corte do tendão para realizar o religamento – e isso resulta em perda de força.
Na intervenção mais comum, que é a cirurgia de túnel do carpo, muitos pacientes relatam depois que não conseguem segurar nem um copo por muito tempo.
Saiba como o terapeuta ocupacional previne e trata lesões
Quando há a instalação de uma patologia, o TO trabalha com analgesia, alongamento e protocolos específicos para cada lesão, com fortalecimento da musculatura para evitar a recidiva (que é muito comum). Pode-se indicar ainda talas e órteses para alívio da dor e fazer a orientação quanto ao seu uso.
É importante lembrar que o home office tem consequências que vão além do aspecto físico. Pesquisa recente da Fundação Getúlio Vargas (FGV) revelou que quase metade das pessoas (45,63%) apresenta baixo nível de bem-estar e saúde mental nessa modalidade de trabalho. Também podem ocorrer sintomas físicos das pessoas em trabalho remoto, como dor no corpo, fadiga e cefaleia, relacionados a estados de humor e vitalidade mais baixos.
Por isso, mais do que nunca, é importante manter bons hábitos, seja em casa ou no local de trabalho, e prevenir lesões com todos os recursos possíveis.
* Syomara Cristina Szmidziuk atua há 30 anos como terapeuta ocupacional
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