O sistema de consórcios propicia uma injeção contínua de recursos na economia brasileira, em razão de sua característica principal: o planejamento. Este diferencial proporciona a liberação de créditos, originários das contemplações de consorciados, por lance ou por sorteio, sem grandes oscilações, independente da conjuntura econômica vivenciada.
Dos benefícios resultantes, já conhecidos pelos participantes da modalidade como prazos longos de pagamento, custos reduzidos, parcelas que cabem no orçamento, valor do crédito corrigido, entre outros, soma-se o estímulo à economia como um todo, visto que o consórcio está presente em diversos segmentos, desde o automotivo, que inclui veículos leves, veículos pesados e motocicletas, ao imobiliário, passando pelos de serviços, eletroeletrônicos e de inúmeros outros tipos de bens móveis.
“É próprio do sistema capitalista que ocorram oscilações econômicas”, afirma Luiz Antonio Barbagallo, economista da ABAC Associação Brasileira de Administradoras de Consórcios. “Os períodos de expansão e de retração são comuns. Notadamente no Brasil, essas oscilações ocorrem em períodos relativamente curtos. Neste momento, por exemplo, estamos convivendo com taxas de juros reais elevadas, condição necessária para que a inflação seja contida com expectativas de desaceleração no consumo”, complementa.
Ao analisar os dados de créditos liberados pelo Sistema Financeiro, em seu site, para o segmento automotivo de 2014 a 2022, divulgados pelo Banco Central, incluindo financiamentos e leasing, foi possível observar a relação dessas modalidades com as variáveis macroeconômicas de cada período.
Os efeitos da recessão, considerando a queda do PIB e juros altos, que teve início no segundo semestre de 2014 e que perdurou até o final de 2016, resultaram em reflexos visíveis nos volumes de financiamentos do segmento automotivo, segundo dados do site do Banco Central do Brasil. Enquanto o crescimento em 2014 atingiu apenas 1,6%, no ano seguinte, houve retração de 17,0% e, em 2016, nova redução de 10,3%.
Paralelamente, nesse mesmo período, as liberações de créditos pelo consórcio cresceram 11,0%, em 2014. Em 2015, retraíram-se somente 1,6% e, no ano posterior, houve uma nova redução de menos 4,8%.
Ao analisar os valores correspondentes concedidos no sistema de consórcios, de acordo com a ABAC, constatou-se não apresentarem alterações significativas: foram R$ 34,4 bilhões, em 2014; ligeiramente inferior com R$ 33,8 bilhões, em 2015; e, ainda um pouco menor, com R$ 32,2 bilhões, em 2016.
Paulo Roberto Rossi, presidente executivo da ABAC, explica que “embora tenhamos vivenciado uma duríssima recessão, os números mostram que os impactos nas liberações de crédito pelo consórcio foram menos sentidos, confirmando a baixa correlação com as variáveis macroeconômicas”.
Passados três anos, 2017 assinalou o início da recuperação da economia, com crescimento do PIB ficando em 1,06%, taxa Selic em 6,90% e inflação de 2,95%, abaixo do limite fixado pelo Conselho Monetário Nacional.
Com esse cenário, os recursos liberados pelo Sistema Financeiro para o segmento automotivo cresceram 23,2% no ano. O sistema de consórcios, ao mostrar baixa correlação em relação a essas variáveis, manteve trajetória de injeção contínua de recursos, avançando 0,7% e disponibilizando R$ 32,5 bilhões para o setor automotivo, um valor pouco acima do totalizado no ano de 2016, segundo dados da associação dos consórcios.
“Seguindo pela década, em 2018 e 2019, com crescimento do PIB em patamares semelhantes ao ano de 2017, e juros em queda”, esclarece Barbagallo, “os financiamentos, altamente correlacionados com essas variáveis, cresceram 24,4% e 29,7%, respectivamente. Já o consórcio, registrou aumento de 1,7% e 3,3%, injetando os valores de R$ 33,0 bilhões, em 2018, e R$ 34,1 bilhões, em 2019, reafirmando a estabilidade”.
O ano 2020 foi impactado pela pandemia e com a implementação de medidas restritivas e os financiamentos anotaram queda, não tão expressiva quanto as anteriores: somente 2,9% negativos. “Nesse mesmo ano, ao remar contra a maré”, diz o economista da ABAC, “as concessões de recursos pelos consórcios cresceram 12,7%. Foram contabilizados R$ 38,4 bilhões para aquisições no segmento automotivo com, novamente, pouca correlação com a conjuntura daquele ano”.
Em 2021, a boa recuperação da economia, com crescimento do PIB em 4,6% e com os juros conservados em patamares baixos em parte do ano, fez com que a somatória dos financiamentos variasse positivamente em 25,6%, conforme dados do Banco Central.
Lado a lado com os recordes verificados nas vendas de novas cotas e no total de participantes ativos em 2020, o Sistema de Consórcios aportou, em 2021, R$ 49,2 bilhões, assinalando um avanço de 27,9%, apurado pela ABAC.
O ano passado (2022) foi marcado pelo combate à inflação, situação observada nas principais economias no mundo. No Brasil, a conjuntura acompanhou o cenário internacional com as taxas de juros atingindo 13,65% ao ano e consequente inibição dos financiamentos, que se retraíram 0,8%, isto é, permanecendo com o equivalente volume de recursos do ano anterior, segundo o Bacen. Na contramão, as liberações de créditos pelos consórcios cresceram 6,8%, com total próximo aos R$ 52,50 bilhões, não afetados pelas medidas econômicas, consoante a ABAC.
“Importante destacar que o sistema de consórcios, ao longo dos últimos anos, tem sido responsável por 25% de participação em créditos liberados para aquisição de veículos automotores, quando somados à concessão de créditos através de financiamentos e leasing”, pontua Rossi. “O consórcio possui dinâmica e peculiaridades próprias. Trata-se de um mecanismo de planejamento financeiro que permite a aquisição de bens e contratação de serviços sem comprometer o orçamento de consumidores”, complementa.
As suas características beneficiam a economia com fluxos contínuos de recursos não inflacionários. “Apenas como exemplo, nos três primeiros meses deste ano, a modalidade já acumulou quase R$ 14,6 bilhões em créditos autorizados para o segmento automotivo. As variáveis macroeconômicas a que estão sujeitas as economias tem uma relação de pouca interferência no Sistema de Consórcios, como já constatado em outras análises na última e nas demais cinco décadas de história”, finaliza Barbagallo.