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O segredo das startups que captaram em 2022

Volume de investimento captado pelas startups no Brasil em 2022 recuou 54,6% no número de investimentos, segundo a Distrito, mas VCs voltados ao early stage, como a Bossanova, aumentaram o número de investidas em relação ao ano anterior

O último ano foi marcado pela falta de grandes rodadas no setor de venture capital e grande receio das startups diante dos layoffs em massa. Segundo levantamento da Distrito, divulgado no começo de janeiro, o volume de investimento captado pelas startups no Brasil recuou 54,6% no número de investimentos, caindo de US$ 9,76 bilhões para US$ 4,45 bilhões. Apesar da queda, 2022 foi o segundo melhor período para o setor, ficando atrás apenas dos U$10 bilhões de 2021.

“Os investimentos não pararam, apenas ficaram mais seletos”. É o que explica João Kepler, da Bossanova Investimentos, venture capital mais ativa da América Latina. Durante 12 meses, Kepler deixou claro para o setor que o early stage não sofreria os mesmos impactos da crise que as chamadas big techs. Foi o que aconteceu. “Era um cenário parecido com o que a Bossanova sempre operou no venture capital: investimentos apenas em negócios que já estivessem ajustados, em breakeven (ou próximo dele), com um plano de crescimento sustentável”, afirmava.

Para entender melhor o cenário e saber quais foram os segredos daqueles que não foram atingidos pela crise, conversamos com cinco fundadores que receberam investimento em 2022. Confira:

Tecnologia que melhora a experiência do consumidor
Em 2022, a edrone, startup polonesa especializada em CRM, automação de marketing e busca por voz para comércio eletrônico, recebeu um aporte de dois fundos de investimento, Atmos Ventures e Müller Medien, que dobraram o valuation da startup em doze meses. O aporte foi conquistado na segunda parte da rodada de financiamento da Série A e está sendo usado para desenvolvimento da operação internacional e em tecnologia de inteligência artificial para uso de busca por voz no e-commerce.

A instalação da filial da edrone no Brasil, realizada em 2022, foi resultado de um aporte de US$ 2,5 milhões, recebido da PortfoLion, uma venture capital do grupo OTP em 2020, e usado na expansão para os mercados da América Latina, Europa Central e Leste Europeu. No mesmo ano, a edrone levantou uma subvenção de US$ 2,8 milhões para o projeto de pesquisa e desenvolvimento (P&D) de um motor de busca por voz para lojas virtuais, que já está disponível no mercado polonês e será implementado no Brasil em 2023.



“Estamos apostando em inovação e isso atrai investidores. Acreditamos no potencial do uso de voz no e-commerce e no quanto essa tecnologia vai melhorar a experiência do consumidor, além de garantir acessibilidade, uma demanda crescente no mercado. A expectativa para 2023 é trabalhar a operação internacional e focar no Brasil para ser nosso segundo maior mercado de atuação”, explica André Floriano, country manager da edrone no Brasil.

Mercado novo e em expansão
No final de 2022 a gestora de fundos de venture capital Invisto aportou R$2 milhões na Sonica, plataforma sem código para projetos Web3. O investimento foi o primeiro recebido pela startups de Blumenau (SC), que desde 2019 atuava com capital próprio. A negociação, conta o CEO da Sonica, Alexandre Adoglio, partiu do interesse da Invisto em aportar em uma empresa de Web3. De acordo com Adoglio, um dos aspectos que chamou a atenção da gestora foi o caráter não especulativo da Sonica. “Nossa tese é trabalhar a Web3 como uma nova ferramenta para o desenvolvimento de negócios, através da descentralização, auto-custódia e construção comunidades, atendendo mercados como finanças, jurídico e economia criativa”, explica.

Agora, a expectativa para 2023 é usar o investimento para aprimorar os serviços para quem deseja atuar em projetos de Web 3.0, como colecionáveis NFT (sigla em inglês para Token Não Fungível), criptomoedas, metaverso e tokenização de ativos. “Acredito que a forma como atuamos em um mercado tão inovador, que tem muito a render nos próximos anos, foi decisivo para conquistarmos essa captação, mesmo em um período turbulento como foi o ano passado. Agora, nossa meta é aumentar a capacidade de atendimento, expandir a equipe e estruturar projetos”, finaliza Adoglio.

Conexão em eventos de investidores e startups
Outra startup que recebeu investimento foi a Magis5, de automação para marketplaces, que, em outubro de 2022, finalizou uma rodada de R$10 milhões. O aporte foi liderado pela americana Parceiro Ventures, completando o investimento iniciado pela Urca Angels, Hangar8 e pela Bossanova Investimentos, venture capital mais ativo da América Latina.

O fundo conheceu a startup durante a primeira edição do Bossa Summit, evento para investidores e startups promovido pela própria Bossanova no início de abril. Segundo Caetano Mantovani, executivo e co-fundador da startup, a presença no evento foi imprescindível para fecharem o aporte. “Não teríamos conhecido a Parceiro se não tivéssemos ido para o Summit. Foi em um happy hour pós-evento, promovido para a Rede Bossa, de empreendedores já investidos pela gestora, que começamos a conversa com o partner deles e vimos o match que havia entre nossos trabalhos”, conta Mantovani, que estará novamente com a Magis5 na edição deste ano, que ocorre nos dias 23 e 24 de março, em São Paulo. Para o empreendedor, a experiência mostrou a força das conexões dentro do ecossistema. “Os investidores que estavam lá eram equilibrados, de todos os tamanhos e de setores diferentes. É uma oportunidade gigante para quem quer captar investimento”, completa.

Resolva problemas reais do ecossistema
Pool de investimento com características regionais, o Join.VC é uma parceria entre o Join.Valle e o Bossanova para investidores anjos da região de Joinville (SC). O programa recolheu R$3 milhões com 30 pessoas físicas e jurídicas no primeiro investimento da iniciativa, que aconteceu em 2022 e investiu em 8 empresas, sendo a maioria de SC. A busca do grupo era por startups que se propusessem a resolver problemas reais em negócios consolidados, fossem elas B2B ou B2B2C, preferencialmente àquelas com alguma proposta relacionada aos desafios enfrentados no ecossistema da maior cidade de Santa Catarina, como soluções para as indústrias que movimentam a região.

Uma das investidas é a Yapoli, solução de gerenciamento de recursos e arquivos digitais para grandes corporações. Usando inteligência artificial, a ferramenta seleciona, arquiva e distribui as informações em diversos formatos digitais, com acesso simultâneo aos colaboradores por meio de buscas inteligentes. Outra é a Receiv, que automatiza a gestão de recebíveis – agenda de cobranças, notas fiscais, contato multicanal com os clientes -, em uma plataforma com recursos visuais, tudo centralizado no mesmo aplicativo.

“Fizemosi uma busca ativa, com apoio da imprensa e dos contatos do ecossistema local. Investimos em startups com modelo pré-seed, digitais e escaláveis. O pool vem auxiliando no desenvolvimento da região ao conectar smart money e iniciativas inovadoras”, conta o diretor executivo da Join.Valle, Fabiano Dell Agnolo. Para 2023, a análise do executivo é que há dinheiro disponível no mercado de investimento anjo, mas os critérios estão mais rígidos por causa do contexto econômico. As startups precisam preparar um bom pitch, mas não apenas isso: é essencial entender o que buscam os pools disponíveis antes ao se candidatar, e mostrar que suas soluções resolvem problemas reais com riscos reduzidos.

Crescimento sustentável e redução de riscos
A GoGood, empresa de tecnologia voltada ao bem-estar corporativo, anunciou em dezembro de 2022 a captação de uma rodada pre-series A com a Dasa, maior rede de saúde integrada do Brasil e detentora de marcas importantes no cenário nacional. O valor recebido não foi divulgado, mas será utilizado para consolidar a liderança do grupo na região Sul, bem como fortalecer a participação de mercado nos 17 estados brasileiros onde a GoGood tem operação. Antes desta captação, a startup contava com investidores de renome nos anos anteriores, como a Canary, e executivos da Nubank e Michael Page.

Segundo Bruno Rodrigues, CEO da GoGood, o cenário de investimento mudou em 2022. “Os investidores de capital de risco passaram a ser mais exigentes nos modelos de negócio e buscam teses de investimento mais comprovadas. A régua subiu e as empresas que buscavam captação precisavam passar mais segurança sobre o modelo de negócio, expertise dos sócios e do time de colaboradores. Coisas que eram menos exigidas em um momento de abundância de capital”, conta. A estratégia para captação de recursos foi consolidar a expertise e o market fit. As experiências do mercado externo serviram para comprovar que o problema é latente no mercado e provar que a solução cresce rápido e com margem adequada.



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Diretor de Conteúdo do Portal Vida Moderna