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Big Data: crise de identidade inibe ascensão

Big Data é velho conhecido do mercado, mas apesar disso enfrenta dificuldades para se estabelecer corretamente, conceitualmente e na prática. A sopa de letras criada pela indústria que lançou tecnologias com diferentes terminologias como Business Analytics (BA), Data Discovery, Smart Machine etc gerou confusão.

Ascendente dessa árvore genealógica da tecnologia, o Business Intelligence (BI) foi resgatado juntando-se ao BA, e, a partir dessa aglutinação imensurável de conceitos e recursos, cada empresa define o seu “B”. Há quem diga que BA é a evolução do BI e quem os considerem distintos, mas parceiros.

Profissionais explicam que o veterano BI analisa informações do passado, gerando relatórios que ao serem interpretados servem como baliza para tomadas de decisão. Já o BA trabalha com dados preditivos, com base em estatísticas ou dados matemáticos de acontecimentos, com o objetivo de desenhar o futuro. Suas avaliações traçam o caminho das pedras para que as empresas mudem ou aprimorem suas estratégias de maneira mais assertiva, evitando surpresas no percurso.

“O BA olha para frente. Eu pego dados do passado e faço previsões para estimar, por exemplo, quanto irão registrar as vendas do próximo semestre”, esclarece Mônica Tyszler (foto), diretora de Marketing e Soluções do SAS, especializada no fornecimento de software de business analytics.

 Agora vai
Apesar de ter causado confusão, analistas do Gartner afirmam que agora o Big Data vai ganhar maturidade. O tema aparece como uma das principais prioridades dos CIOs para os próximos dois anos ao lado de outras quatro megatendências de TI: mobilidade, cloud computing, social media e Internet das Coisas (IoT – Internet of Things).



Na visão da consultoria, Big Data é um dos ingredientes essenciais para as estratégias de transformação digital dos negócios. Conscientes dessa importância, companhias movimentam-se para abraçar essa tendência. Estudo global do instituto de pesquisa com mais de 300 organizações, incluindo participantes do mercado brasileiro, revela que 73% das entrevistadas planejam investir em projetos nessa área. Em 2013, esse índice era de 64%.

O Big Data começou mesmo a ser experimentado em maior escala em 2013, quando 8% das entrevistadas pelo Gartner reportaram que tinham projetos nessa área. Em 2014, o volume de iniciativas subiu para 13%, o que sinaliza uma evolução no entendimento do conceito e na disposição para explorar oportunidades com essa filosofia.

 Um canivete suíço
Afinal, a proposta do Big Data é ajudar as empresas a pescar, no meio do oceano de dados, os que podem gerar informações de valor para as tomadas de decisão. Esse processo envolve captura, armazenamento e tratamento de dados em tempo real, baseado no conceito dos cinco “Vs”: volume, variedade, velocidade, veracidade e valor.

Vale ouro a possibilidade de analisar dados estruturados (ERP, CRM e BI entre outros) e não-estruturados – que são os conteúdos em diferentes formatos (vídeo, texto e fotos) gerados internamente e fora da organização, principalmente pelo rolo compressor das redes sociais (Facebook, Twitter, Instagran, YouTube etc).

Mas antes, é necessário gerenciá-los. E o Big Data propõe-se a isso. Em especial os dados não-estruturados, que já representam 70% das informações que circulam hoje pelas companhias. Previsões da IDC dão conta de que em 2022 esse índice subirá para mais de 90%.

“Big Data pode ajudar a resolver inúmeros problemas de negócios em muitas indústrias. As mudanças mais dramáticas estão na melhoria da experiência dos clientes, especialmente em transporte, saúde, seguros, mídia e comunicação, varejo e bancos”, afirma Lisa Kart diretora de pesquisas do Gartner.

Marco Lauria, executivo de Big Data Analytics da IBM para a América Latina, destaca que um dos grandes benefícios dessa estratégia é permitir análise de dados em tempo real para medir o sentimento de consumidores. Ele menciona projetos para avaliar o que os clientes estão falando nas redes sociais sobre determinado produto e que podem ser cruzados com os estruturados para adoção de uma estratégia de vendas mais assertiva.

 Fiel escudeiro da era digital
O mundo produz diariamente uma avalanche de dados, criando um universo digital, que dobra a cada dois anos e se multiplicará por dez até o início da próxima década. As projeções são da EMC, que estima um salto do volume de informações do planeta para 44 trilhões de gigabytes em 2020, ante 4,4 trilhões de gigabytes em 2013.

E não vai parar por aí. Esse crescimento será impulsionado de maneira impactante, principalmente, pela Internet das Coisas (IoT), quando esse conceito que conecta pessoas, coisas e tudo mais, atingir seu apogeu.

Esse é o fenômeno do Big Data. Tsunamis estão em formação e deverão invadir empresas, desafiando CIOs e executivos de negócios a traçarem estratégias não para contenção, mas para separar de maneira rápida e inteligente o joio do trigo. A tarefa exige investimentos em tecnologias, segurança e profissionais especializados. Uma movimentação que certamente pode garantir mais competitividade, inovação e decisões mais ágeis e assertivas.

Estudo da Accenture
Uma pesquisa global da Accenture com 4,3 mil empresas que já têm iniciativas de Big Data em 19 países, incluindo o Brasil, revela que 92% estão obtendo ganhos para os negócios. Entre os entrevistados, 89% classificaram os projetos como importantes para a transformação digital e 82% concordaram que a estratégia de tratamento de dados é uma fonte significativa de valor para suas companhias.

No Brasil, esse índice é ainda maior, 96% dos executivos consideram Big Data relevante para a transformação digital. Eles revelaram que adotaram a iniciativa para reter e conquistar clientes (98%); e desenvolver novos produtos (96%) e serviços (92%). Os projetos também são uma alavanca para novas fontes de receita (68%) e ainda melhorar a experiência do cliente (55%).

Segundo Mônica Tyszler (Foto), diretora de Marketing e Soluções do SAS, especializada no fornecimento de software de business analytics, os segmentos da economia mais interessados na adoção de Big Data no Brasil são os setores que geram grandes volumes de dados. Entre os quais estão os bancos, operadoras de telecomunicações, varejo, administradoras de cartões de crédito e seguradoras.

Obstáculos para decolagem
São várias as barreiras que as companhias enfrentam para aderir ao Big Data. Entre as quais, ter recursos para investir nos projetos com segurança e ter mão de obra especializada. Mônica, do SAS, destaca que um dos obstáculos é a TI conseguir mostrar para seus pares de negócios o valor das informações para as estratégias da companhia.

Marco Lauria, da IBM, menciona também a falta de cultura das empresas para análise de dados. Em sua opinião, custo e teologia não são mais um problema. Ele destaca que os preços das soluções estão caindo e que a nova geração de ferramentas está-se tornando mais simples de manusear. Sua recomendação é que as empresas deem o primeiro passo, começando com pequenos protótipos para avaliar os resultados.

A falta de mão de obra especializada é considerada um dos maiores entraves para que o Big Data deslanche. Essa nova onda criou uma profissão no mercado de TI, o cientista de dados, um talento ainda raro com formação multidisciplinar, que exige habilidades em matemática, estatística, TI e negócios.

Virando o jogo
Encontrar todas essas competências em um único profissional não é algo fácil no Brasil ou no exterior. Para preencher esse gap, indústrias estão apoiando universidades na introdução de disciplinas em programas de graduação, pós e especialização para formar especialistas em Big Data. A EMC, por exemplo, fechou convênio com a Universidade Federal do Rio de Janeiro (URFJ) para instalação de um centro de Pesquisa e Desenvolvimento, que tem a missão de também capacitar mão de obra nessa área.

Fred Arruda, diretor de Operações do Centro de Pesquisas da EMC, afirma que os primeiros cursos da URFJ começam a ser oferecidos a partir de 2015 e que o mercado terá de aguardar um pouco mais para ter talentos especializados. Enquanto isso não acontece, a fabricante conta com um time de 20 cientistas de dados para apoiar os clientes com a transferência de conhecimento na implementação dos projetos.

A IBM segue a mesma estratégia. Em julho do ano passado, a companhia trouxe para o Brasil o programa mundial “IBM Academic Initiative”, iniciando atuação com seis grandes universidades do País, que possuem cursos de TI e irão incluir na graduação, pós-graduação e MBA matérias direcionadas à formação de especialistas em Big Data.

São parceiras da IBM nesse desafio a Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), Fundação Getulio Vargas (FGV), Universidade Presbiteriana Mackenzie, Universidade de Taubaté (SP), Faculdade de Tecnologia FIAP e Faculdade BandTec.

Todas passam a contar com materiais, workshops de capacitação de professores e licenças gratuitas para o uso de tecnologias de análise de dados exclusivas da IBM como parte do conteúdo curricular de seus novos cursos.

Outra saída sugerida pelos analistas de mercado é que as empresas tentem capacitar profissionais de sua equipe interna que tenham visão de negócios. Esses especialistas podem ser treinados para lidar com Big Data, com ajuda dos fornecedores.

Como ter sucesso nas iniciativas
Recomendações da Accenture para vencer os desafios na adoção do Big Data.

1- Explore todo o ecossistema e seja ágil

Fontes de dados e tecnologias de Big Data estão em constante fluxo. As empresas precisam aprender para aproveitar as oportunidades.

2- Comece pequeno e cresça

Em vez de tentar fazer tudo ao mesmo tempo, concentre os recursos para obter valor do Big Data, primeiramente em uma área de negócios. Faça um programa-piloto ou validação de conceito.

3- Foque na formação de competências

Com a falta de talento apontada como um dos maiores desafios do Big Data, você precisa desenvolver as competências de funcionários existentes por meio de treinamentos e desenvolvimento.



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